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O QUE É A FILOSOFIA?

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constituem a desaceleração no caos ou o limiar de suspensão do infinito, que servem de endo-referência e<br />

operam uma contagem: não são relações, mas números, e toda a teoria das funções depende de números.<br />

Invocar-se-á'a velocidade da luz, o zero absoluto, o quantum de ação, o Big Bang: o zero absoluto das<br />

temperaturas é de -273,15 graus; a velocidade da luz, 299.796 km/s, lá onde os comprimentos se contraem a<br />

zero e onde os relógios param. Tais limites só valem pelo valor empírico que eles assumem apenas no<br />

sistema de coordenadas, agem de início como a condição de desaceleração primordial, que se estende com<br />

relação ao infinito sobre toda a escala das velocidades correspondentes, sobre suas acelerações ou<br />

desacelerações condicionadas. E não é somente a diversidade desses limites que autoriza duvidar da<br />

vocação unitária da ciência; é cada um, com efeito, que gera por sua conta sistemas de coordenadas<br />

heterogêneas irredutíveis, e impõe limiares de descontinuidade, segundo a proximidade ou o distanciamento<br />

da variável (por exemplo, o distanciamento das galáxias). A ciência não é impregnada por sua própria<br />

unidade, mas pelo plano de referência constituído por todos os limites ou bordas sob as quais ela enfrenta o<br />

caos. São estas bordas que dão ao plano suas referências; quanto aos sistemas de coordenadas, eles<br />

povoam ou mobiliam o próprio plano de referência.<br />

EXEMPLO X<br />

155 ▲<br />

<strong>É</strong> difícil compreender como o limite corrói imediatamente o infinito, o ilimitado. E todavia não é a coisa<br />

limitada que impõe um limite ao infinito, é o limite que torna possível uma coisa limitada. Pitágoras,<br />

Anaximandro, Platão mesmo o pensaram: um corpo-a-corpo do limite com o infinito, de onde sairão as coisas.<br />

Todo limite é ilusório, e toda determinação é negação, se a determinação não está numa relação imediata<br />

com o indeterminado. A teoria da ciência e das funções depende disso. Mais tarde, é Cantor quem dá à teoria<br />

suas fórmulas matemáticas, de um duplo ponto de vista, intrínseco e extrínseco. Segundo o primeiro, um<br />

conjunto é dito infinito se apresenta uma correspondência termo a termo com uma de suas partes ou<br />

subconjuntos, o conjunto e o subconjunto tendo a mesma potência ou o mesmo número de elementos<br />

designáveis por "alef 0": assim ocorre com o conjunto dos números inteiros. De acordo com a segunda<br />

determinação, o conjunto dos subconjuntos de um conjunto dado é necessariamente maior que o conjunto de<br />

partida: o conjunto dos alef 0 subconjuntos remete pois a um outro número transfinito, alef 1, que possui a<br />

potência do contínuo ou corresponde ao conjunto dos números reais (continua-se em seguida com alef 2,<br />

etc). Ora, é estranho que se tenha tão freqüentemente visto nesta concepção uma reintrodução do infinito na<br />

matemática: é antes a extrema conseqüência da definição do limite por um número, este sendo o primeiro<br />

número inteiro que segue todos os números inteiros finitos dos quais nenhum é máximo. O que a teoria dos<br />

conjuntos faz é inscrever o limite no infinito mesmo, sem o que não haveria jamais limite: em sua<br />

156 ▲<br />

severa hierarquização, ela instaura uma desaceleração, ou antes, como diz o próprio Cantor, uma parada, um<br />

"princípio de parada" segundo o qual só se cria um novo número inteiro "se a reunião de todos os números<br />

precedentes tem a potência de uma classe de números definida, já dada em toda a sua extensão"(2). Sem<br />

este princípio de parada ou de desaceleração, haveria um conjunto de todos os conjuntos, que Cantor já<br />

recusa, e que não poderia ser senão o caos, como o mostra Russell. A teoria dos conjuntos é a constituição<br />

de um plano de referência, que não comporta somente uma endo-referência (determinação intrínseca de um<br />

conjunto infinito), mas já uma exo-referência (determinação extrínseca). Malgrado o esforço explícito de<br />

Cantor para reunir o conceito filosófico e a função científica, a diferença característica subsiste, já que um se<br />

desenvolve sobre um plano de imanência ou de consistência sem referência, mas a outra sobre um plano de<br />

referência desprovido de consistência (Gõdel).<br />

Quando o limite gera, pela desaceleração, uma abcissa das velocidades, as formas virtuais do caos<br />

tendem a se atualizar segundo uma ordenada. E certamente o plano de referência opera já uma pré-seleção<br />

que emparelha as formas aos limites, ou mesmo às regiões de abcissas consideradas. Mas as formas não<br />

deixam de constituir variáveis independentes daquelas que se deslocam na abcissa. <strong>É</strong> muito diferente do<br />

conceito filosófico: as ordenadas intensivas não designam mais componentes inseparáveis aglomerados no<br />

conceito enquanto sobrevôo absoluto (variações), mas determinações distintas<br />

(2) Cantor, Fondements d'une théorie générale des ensembles (Cahiers pour 1'analyse, n° 10). Desde o<br />

começo do texto Cantor invoca o Limite platônico.<br />

157 ▲<br />

que devem emparelhar-se, numa formação discursiva, com outras determinações tomadas em extensão<br />

(variáveis). As ordenadas intensivas de formas devem se coordenar às abcissas extensivas de velocidade, de<br />

tal maneira que as velocidades de desenvolvimento e a atualização das formas se remetam umas às outras,<br />

como determinações distintas, extrínsecas(3). <strong>É</strong> sob este segundo aspecto que o limite é agora a origem de

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