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O QUE É A FILOSOFIA?

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Functivos e Conceitos<br />

CIÊNCIA LÓGICA<br />

E ARTE<br />

A ciência não tem por objeto conceitos, mas funções que se apresentam como proposições nos<br />

sistemas discursivos. Os elementos das funções se chamam functivos. Uma noção científica é determinada<br />

não por conceitos, mas por funções ou proposições. <strong>É</strong> uma idéia muito variada, muito complexa, como se<br />

pode ver já no uso que dela fazem respectivamente a matemática e a biologia; porém, é essa idéia de função<br />

que permite às ciências refletir e comunicar. A ciência não tem nenhuma necessidade da filosofia para essas<br />

tarefas. Em contrapartida, quando um objeto é cientificamente construído por funções, por exemplo um<br />

espaço geométrico, resta buscar seu conceito filosófico que não é de maneira alguma dado na função. Mais<br />

ainda, um conceito pode tomar por componentes os functivos de toda função possível, sem por isso ter o<br />

menor valor científico, mas com a finalidade de marcar as diferenças de natureza entre conceitos e funções.<br />

Sob estas condições, a primeira diferença está na atitude respectiva da ciência e da filosofia com<br />

relação ao caos. Define-se o caos menos por sua desordem que pela velocidade infinita com a qual se<br />

dissipa toda forma que nele se esboça. <strong>É</strong> um vazio que não é um nada, mas um virtual, contendo todas as<br />

partículas possíveis e suscitando todas as formas possíveis que surgem para desaparecer logo em seguida,<br />

sem consistência nem referência, sem conseqüência(1). E uma velocidade infinita de nascimento e de<br />

esvanescimento. Ora, a filosofia pergunta como guardar as velocidades infinitas, ganhando ao mesmo tempo<br />

consistência, dando uma consistência própria ao virtual. O crivo filosófico, como plano<br />

(1) Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, Entre le temps et 1'éternité, Ed.Fayard, pp. 162-163 (os autores tomam<br />

o exemplo da cristalização de um líquido superfundido, líquido a uma temperatura inferior a sua temperatura<br />

de cristalização: "Num tal líquido formam-se pequenos germes de cristais, mas estes germes aparecem e<br />

depois se dissolvem sem gerar conseqüências.").<br />

153 ▲<br />

de imanência que recorta o caos, seleciona movimentos infinitos do pensamento e se mobilia com conceitos<br />

formados como partículas consistentes que se movimentam tão rápido como o pensamento. A ciência tem<br />

uma maneira inteiramente diferente de abordar o caos, quase inversa: ela renuncia ao infinito, à velocidade<br />

infinita, para ganhar uma referência capaz de atualizar o virtual. Guardando o infinito, a filosofia dá uma<br />

consistência ao virtual por conceitos; renunciando ao infinito, a ciência dá ao virtual uma referência que o<br />

atualiza, por funções. A filosofia procede por um plano de imanência ou de consistência; a ciência, por um<br />

plano de referência. No caso da ciência, é como uma parada da imagem. <strong>É</strong> uma fantástica desaceleração (*),<br />

e é por desaceleração que a matéria se atualiza, como também o pensamento científico, capaz de penetrá-la<br />

por proposições. Uma função é uma Desacelerada. Certamente, a ciência não cessa de promover<br />

acelerações, não somente nas catalises, mas nos aceleradores de partículas, nas expansões que distanciam<br />

as galáxias. Estes fenômenos, contudo, não encontram na desaceleração primordial um instante-zero com o<br />

qual rompem, mas antes uma condição coextensiva a seu desenvolvimento integral. Desacelerar é colocar<br />

um limite no caos, sob o qual todas as velocidades passam, de modo que formam uma variável determinada<br />

como abcissa, ao mesmo tempo que o limite forma uma constante universal que não se pode ultrapassar (por<br />

exemplo, um máximo de contração). Os primeiros functivos são, pois, o limite e a variável, e a referência é<br />

uma relação entre valores da variável ou, mais profundamente, a relação da variável, como abcissa das<br />

velocidades, com o limite.<br />

Acontece que a constante-limite aparece ela própria como uma relação no conjunto do universo, ao<br />

qual todas as partes são submetidas sob uma condição finita (quantidade<br />

(*) No original, ralentissement (N. dos T.).<br />

154 ▲<br />

de movimento, de força, de energia...). Ainda é preciso que sistemas de coordenadas existam, aos quais<br />

remetem os termos da relação: é, pois, um segundo sentido do limite, um enquadramento externo ou uma<br />

exo-referência. Pois os proto-limites, fora de todas as coordenadas, geram de início abcissas de velocidades<br />

sobre as quais se erguerão os eixos coordenáveis. Uma partícula terá uma posição, uma energia, uma<br />

massa, um valor de spin, mas sob a condição de receber uma existência ou uma atualidade física, ou de<br />

"aterrissar" nas trajetórias que os sistemas de coordenadas poderão captar. São esses limites primeiros que

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