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O QUE É A FILOSOFIA?

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Simmel, Sociologie et épistémologie, P.U.F., cap. III.<br />

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com os territórios que nela se desenham ou se apagam, sua relação geológica com eras e catástrofes, sua<br />

relação astronômica com o cosmos e o sistema estelar do qual faz parte. Mas a desterritorialização é<br />

absoluta quando a terra entra no puro plano de imanência de um pensamento — Ser, de um pensamento —<br />

Natureza com movimentos diagramáticos infinitos. Pensar consiste em estender um plano de imanência que<br />

absorve a terra (ou antes a "adsorve"). A desterritorialização de um tal plano não exclui uma<br />

reterritorialização, mas a afirma como a criação de uma nova terra por vir. Resta que a desterritorialização<br />

absoluta só pode ser pensada segundo certas relações, por determinar, com as desterritorializações relativas,<br />

não somente cósmicas, mas geográficas, históricas e psicossociais. Há sempre uma maneira pela qual a<br />

desterritorialização absoluta, sobre o plano de imanência, toma o lugar de uma desterritorialização relativa<br />

num campo dado.<br />

<strong>É</strong> aí que uma grande diferença intervém se a desterritorialização relativa é ela própria de imanência ou<br />

de transcendência. Quando ela é transcendente, vertical, celeste, operada pela unidade imperial, o elemento<br />

transcendente deve inclinar-se ou sofrer uma espécie de rotação para se inscrever sobre o plano do<br />

pensamento-Natureza sempre imanente: é segundo uma espiral, que a vertical celeste pousa sobre a<br />

horizontal do plano do pensamento. Pensar implica aqui uma projeção do transcendente sobre o plano de<br />

imanência. A transcendência pode ser inteiramente "vazia" em si mesma, ela se preenche à medida que se<br />

inclina e atravessa diferentes níveis hierárquicos, que se projetam em conjunto sobre uma região do plano,<br />

isto é, sobre um aspecto correspondente a um movimento infinito. E quando a transcendência invade o<br />

absoluto, ou quando um monoteísmo substitui a unidade imperial, ocorre o mesmo: o Deus transcendente<br />

permanecerá vazio, ou ao menos absconditus, se não se proje-<br />

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tar sobre um plano de imanência da criação, em que traça as etapas de sua teofania. Em todos estes casos,<br />

unidade imperial ou império espiritual, a transcendência que se projeta sobre o plano de imanência o ladrilha<br />

ou o povoa de Figuras. <strong>É</strong> uma sabedoria, ou uma religião, pouco importa. <strong>É</strong> somente deste ponto de vista que<br />

se pode aproximar os hexagramas chineses, as mandalas hindus, as sefirot judaicas, os "imaginais"<br />

islâmicos, os ícones cristãos: pensar por figuras. Os hexagramas são combinações de traços contínuos e<br />

descontínuos, derivando uns dos outros segundo os níveis de uma espiral que figura o conjunto dos<br />

momentos sob os quais o transcendente se inclina. A mandala é uma projeção sobre uma superfície, que faz<br />

corresponder os níveis divino, cósmico, político, arquitetural, orgânico, como valores de uma mesma<br />

transcendência. <strong>É</strong> por isso que a figura tem uma referência, e uma referência por natureza plurívoca e<br />

circular. Ela certamente não se define por uma semelhança exterior, que permanece proibida, mas por uma<br />

tensão interna que a remete ao transcendente sobre o plano de imanência do pensamento. Numa palavra, a<br />

figura é essencialmente paradigmática, projetiva, hierárquica, referencial (as artes e as ciências também<br />

erigem poderosas figuras, mas o que as distingue de toda religião não é aspirar à semelhança proibida, é<br />

emancipar tal ou tal nível para dele fazer novos planos do pensamento sobre os quais as referências e<br />

projeções, como veremos, mudam de natureza).<br />

Precedentemente, para ir rápido, dizíamos que os gregos tinham inventado um plano de imanência<br />

absoluto. Mas a originalidade dos gregos, é preciso antes procurá-la na relação entre o relativo e o absoluto.<br />

Quando a desterritorialização relativa é ela mesma horizontal, imanente, ela se conjuga com a<br />

desterritorialização absoluta do plano de imanência que leva ao infinito, que leva ao absoluto os movimentos<br />

da primeira, transformando-os (o meio, o amigo, a<br />

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opinião). A imanência é redobrada. <strong>É</strong> aí que se pensa, não mais por figuras, mas por conceitos. <strong>É</strong> o conceito<br />

que vem povoar o plano de imanência. Não há mais projeção numa figura, mas conexão no conceito. <strong>É</strong> por<br />

isso que o conceito, ele mesmo, abandona toda referência para não reter senão conjugações e conexões que<br />

constituem sua consistência. O conceito não tem outra regra senão a da vizinhança, interna ou externa. Sua<br />

vizinhança ou consistência interna está assegurada pela conexão de seus componentes em zonas de<br />

indiscernibilidade; sua vizinhança externa ou exoconsistência está assegurada por pontes que vão de um<br />

conceito a um outro, quando os componentes de um estão saturados. E é bem o que significa a criação de<br />

conceitos: conectar componentes interiores inseparáveis até o fechamento ou a saturação, de modo que não<br />

se pode mais acrescentar ou retirar um deles sem mudar o conceito; conectar o conceito com um outro, de tal<br />

maneira que outras conexões mudariam sua natureza. A plurivocidade do conceito depende unicamente da<br />

vizinhança (um conceito pode ter muitos outros conceitos vizinhos). Os conceitos são fundos uniformes sem<br />

níveis, ordenadas sem hierarquia. Donde a importância das questões na filosofia: que meter num conceito, e

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