O QUE É A FILOSOFIA?
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Talvez tivesse sido necessário prestar mais atenção ao plano de imanência traçado como máquina<br />
abstrata, e aos conceitos criados como peças da máquina. Poder-se-ia imaginar, neste sentido, um retrato<br />
maquínico de Kant, ilusões compreendidas (ver esquema acima).<br />
1. - O "Eu penso" com cabeça de boi, sonorizado, que não cessa de repetir Eu = Eu. / 2. - As<br />
categorias como conceitos universais (quatro grandes títulos): fios extensíveis e retrácteis seguindo o<br />
movimento circular de 3. / 3. - A roda móvel dos esquemas. / 4. - O pouco profundo riacho, o tempo como<br />
forma da interiorida-de na qual mergulha e emerge a roda dos esquemas. / 5. - O Espaço como forma da<br />
exterioridade: margens e fundo. / 6. - O eu passivo no fundo do riacho e como junção das duas formas. / 7. -<br />
Os princípios dos juízos sintéticos que percorrem o espaço-tempo. / 8. - O campo transcendental da<br />
experiência possível, imanente ao Eu (plano de imanência). / 9. - As três idéias, ou ilusões de transcendência<br />
(círculos girando no horizonte absoluto: Alma, Mundo e Deus).<br />
Muitos são os problemas que concernem tanto à filosofia quanto à história da filosofia. As folhas do<br />
plano de imanência ora se separam até se oporem umas às outras, e convirem cada uma a tal ou tal filósofo,<br />
ora, ao contrário, se reúnem para cobrir ao menos períodos bastante longos. Além disso, entre a instauração<br />
de um plano pré-filosófico e a criação de conceitos filosóficos, as relações são elas próprias complexas. Num<br />
longo período, filósofos podem criar conceitos novos, permanecendo no mesmo plano e supondo a mesma<br />
imagem que um filósofo precedente, que eles reivindicarão como mestre: Platão e os neo-platônicos, Kant e<br />
os neo-kantianos (ou mesmo a maneira como Kant ele mesmo reativa certos segmentos do platonismo). Em<br />
todo caso, não será, todavia, sem prolongar o plano primitivo, afetando-o com novas curvaturas, a ponto de<br />
que uma dúvida subsiste: não é um outro plano que foi tecido nas malhas do primeiro? A questão de saber<br />
em quais casos os filósofos são "discípulos" de um outro e até que ponto, em quais casos,<br />
ao contrário, fazem enrica a ele mudando de plano, traçando uma outra imagem, implica pois avaliações tanto<br />
mais complexas e relativas quanto jamais os conceitos que ocupam um plano podem ser simplesmente<br />
deduzidos. Os conceitos que vêm povoar um mesmo plano, mesmo em datas muito diferentes e sob<br />
acomodações especiais, serão chamados conceitos do mesmo grupo; não serão assim chamados aqueles<br />
que remetem a planos diferentes. A correspondência de conceitos criados e de plano instaurado é rigorosa,<br />
mas faz-se sob relações indiretas que restam por determinar.<br />
Pode-se dizer que um plano é "melhor" que um outro ou, ao menos, que ele responde ou não às<br />
exigências da época? Que quer dizer responder às exigências, e que relação há entre os movimentos ou<br />
traços diagramáticos de uma imagem do pensamento e os movimentos ou traços sócio-históricos de uma<br />
época? Estas questões só podem avançar se renunciamos ao ponto de vista estreitamente histórico do antes<br />
e do depois, para considerar o tempo da filosofia em detrimento da história da filosofia. E um tempo<br />
estratigráfico, onde o antes e o depois não indicam mais que uma ordem de superposições. Certos caminhos<br />
(movimentos) não tomam sentido e direção, senão como os atalhos ou os desvios de caminhos apagados;<br />
uma curvatura variável não pode aparecer senão como a transformação de uma ou várias outras; uma<br />
camada ou uma folha do plano de imanência estará necessariamente em cima ou por baixo em relação a<br />
uma outra, e as imagens do pensamento não podem surgir em qualquer ordem, já que implicam mudanças<br />
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