O QUE É A FILOSOFIA?
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esolvida progressivamente.<br />
<strong>É</strong> essencial não confundir o plano de imanência e os conceitos que o ocupam. E todavia os mesmos<br />
elementos<br />
(4) Sobre estes dinamismos, cf. Michel Courthial, Le visage, no prelo.<br />
podem aparecer duas vezes, sobre o plano e no conceito, mas -jamais sob os mesmos traços, mesmo<br />
quando se exprimem nos mesmos verbos e nas mesmas palavras: já o vimos quanto ao ser, ao pensamento,<br />
ao Uno; eles entram em componentes de conceito e são eles mesmos conceitos, mas de uma maneira tão<br />
diferente que não pertencem ao plano como imagem ou matéria. Inversamente, o verdadeiro sobre o plano<br />
não pode ser definido senão por um "voltar-se na direção de...", ou "aquilo em cuja direção o pensamento se<br />
volta"; mas não dispomos assim de nenhum conceito de verdade. Se o próprio erro é um elemento de direito<br />
que faz parte do plano, ele consiste somente em tomar o falso pelo verdadeiro (cair), mas só recebe um<br />
conceito se são determinados seus componentes (por exemplo, segundo Descartes, os dois componentes de<br />
um entendimento finito e de uma vontade infinita). Os movimentos ou elementos do plano não parecerão pois<br />
senão definições nominais, com relação aos conceitos, enquanto negligenciarmos a diferença de natureza.<br />
Mas, na realidade, os elementos do plano são traços diagramáticos, enquanto os conceitos são traços<br />
intensivos. Os primeiros são movimentos do infinito, enquanto os segundos são as ordenadas intensivas<br />
desses movimentos, como cortes originais ou posições diferenciais: movimentos finitos, cujo infinito só é de<br />
velocidade, e que constituem cada vez uma superfície ou um volume, um contorno irregular marcando uma<br />
parada no grau de proliferação. Os primeiros são direções absolutas de natureza fractal, ao passo que os<br />
segundos são dimensões absolutas, superfícies ou volumes sempre fragmentários, definidos intensivamente.<br />
Os primeiros são intuições, os segundos, intensões. Que toda filosofia dependa de uma intuição, que seus<br />
conceitos não cessam de desenvolver até o limite das diferenças de intensidade, esta grandiosa perspectiva<br />
leibniziana ou bergsoniana está fundada se consideramos a intuição como o envolvimento dos mo-<br />
vimentos infinitos do pensamento, que percorrem sem cessar um plano de imanência. Não se concluirá daí<br />
que os conceitos se deduzam do plano: para tanto é necessário uma construção especial, distinta daquela do<br />
plano, e é por isso que os conceitos devem ser criados, do mesmo modo que o plano deve ser erigido.<br />
Jamais os traços intensivos são a conseqüência dos traços diagramáticos, nem as ordenadas intensivas se<br />
deduzem dos movimentos ou direções. A correspondência entre os dois excede mesmo as simples<br />
ressonâncias e faz intervir instâncias adjuntas à criação dos conceitos, a saber, os personagens conceituais.<br />
Se a filosofia começa com a criação de conceitos, o plano de imanência deve ser considerado como<br />
pré-filosófico. Ele está pressuposto, não da maneira pela qual um conceito pode remeter a outros, mas pela<br />
qual os conceitos remetem eles mesmos a uma compreensão não-conceitual. Esta compreensão intuitiva<br />
varia ainda segundo a maneira pela qual o plano está traçado. Em Descartes, tratar-se-ia de uma<br />
compreensão subjetiva e implícita suposta pelo Eu penso como primeiro conceito; em Platão, era a imagem<br />
virtual de um já-pensado que redobraria todo conceito atual. Heidegger invoca uma "compreensão préontológica<br />
do Ser", uma compreensão "pré-conceitual" que parece bem implicar a captação de uma matéria<br />
do ser em relação com uma disposição do pensamento. De qualquer maneira, a filosofia coloca como préfilosófica,<br />
ou mesmo não-filosófica, a potência de um Uno-Todo como um deserto movente que os conceitos<br />
vêm a povoar. Pré-filosófica não significa nada que preexista, mas algo que não existe fora da filosofia,<br />
embora esta o suponha. São suas condições internas. O não-filosófico está talvez mais no coração da<br />
filosofia que a própria filosofia, e significa que a filosofia não pode contentar-se em ser compreendida<br />
somente de maneira filosófica ou conceituai, mas que ela se endereça também, em sua essência, aos nãofiló-<br />
sofos(5). Veremos que esta remissão constante à não-filosofia assume aspectos variados; de acordo com<br />
este primeiro aspecto, a filosofia, definida como criação de conceitos, implica uma pressuposição que dela se<br />
distingue, e que todavia dela é inseparável. A filosofia é ao mesmo tempo criação de conceito e instauração<br />
do plano. O conceito é o começo da filosofia, mas o plano é sua instauração(6). O plano não consiste<br />
evidentemente num programa, num projeto, num fim ou num meio; é um plano de imanência que constitui o<br />
solo absoluto da filosofia, sua Terra ou sua desterritorialização, sua fundação, sobre os quais ela cria seus<br />
conceitos. Ambos são necessários, criar os conceitos e instaurar o plano, como duas asas ou duas<br />
nadadeiras.<br />
Pensar suscita a indiferença geral. E todavia não é falso dizer que é um exercício perigoso. <strong>É</strong> somente<br />
quando os perigos se tornam evidentes que a indiferença cessa, mas eles permanecem freqüentemente<br />
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