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O QUE É A FILOSOFIA?

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plano não tem outras regiões senão as tribos que o povoam e nele se deslocam. <strong>É</strong> o plano que assegura o<br />

ajuste dos conceitos, com conexões sempre crescentes, e são os conceitos que asseguram o povoamento do<br />

plano sobre uma curvatura renovada, sempre variável.<br />

O plano de imanência não é um conceito pensado nem pensável, mas a imagem do pensamento, a<br />

imagem que ele se dá do que significa pensar, fazer uso do pensamento, se orientar no pensamento... Não é<br />

um método, pois todo método concerne eventualmente aos conceitos e supõe uma tal imagem. Não é nem<br />

mesmo um estado de conhecimento sobre o cérebro e seu funcionamento, já que o pensamento não é aqui<br />

remetido ao lento cérebro como ao estado de coisas cientificamente determinável em que ele se limita a<br />

efetuar-se, quaisquer que sejam seu uso e sua orientação. Não é nem mesmo a opinião que se faz do<br />

pensamento, de suas formas, de seus fins e seus meios a tal ou tal momento. A imagem do pensamento<br />

implica uma severa repartição do fato e do direito: o que concerne ao pensamento, como tal, deve ser<br />

separado dos acidentes que remetem ao cérebro, ou às opiniões históricas. "Quid júris}" Por exemplo, perder<br />

a memória, ou estar louco, isto pode pertencer ao pensamento como tal, ou são somente acidentes do<br />

cérebro que devem ser considerados como simples fatos? E contemplar, refletir, comunicar são outra coisa<br />

senão opiniões que se faz sobre o pensamento, a tal época e em tal civilização? A imagem do pensamento<br />

só retém o que o pensamento pode reivindicar de direito. O pensamento reivindica "somente" o movimento<br />

que pode ser levado ao infinito. O que o pensamento reivindica de direito, o que ele seleciona, é o movimento<br />

infinito ou o movimento do infinito. E ele que constitui a imagem do pensamento.<br />

O movimento do infinito não remete a coordenadas espaço-temporais, que definiriam as posições<br />

sucessivas de um<br />

móvel e os pontos fixos de referência, com relação aos quais estas variam. "Orientar-se no pensamento" não<br />

implica nem num ponto de referência objetivo, nem num móvel que se experimentasse como sujeito e que,<br />

por isso, desejaria o infinito ou teria necessidade dele. O movimento tomou tudo, e não há lugar nenhum para<br />

um sujeito e um objeto que não podem ser senão conceitos. O que está em movimento é o próprio horizonte:<br />

o horizonte relativo se distancia quando o sujeito avança, mas o horizonte absoluto, nós estamos nele sempre<br />

e já, no plano de imanência. O que define o movimento infinito é uma ida e volta, porque ele não vai na<br />

direção de uma destinação sem já retornar sobre si, a agulha sendo também o pólo. Se "voltar-se para..." é o<br />

movimento do pensamento na direção do verdadeiro, como o verdadeiro não se voltaria também na direção<br />

do pensamento? E como não se afastaria o próprio verdadeiro do pensamento, quando o pensamento dele se<br />

afasta? Não é uma fusão, entretanto, é uma reversibilidade, uma troca imediata, perpétua, instantânea, um<br />

clarão. O movimento infinito é duplo, e não há senão uma dobra de um a outro. <strong>É</strong> neste sentido que se diz<br />

que pensar e ser são uma só e mesma coisa. Ou antes, o movimento não é imagem do pensamento sem ser<br />

também matéria do ser. Quando salta o pensamento de Tales, é como água que o pensamento retorna.<br />

Quando o pensamento de Heráclito se faz polémos, é o fogo que retorna sobre ele. <strong>É</strong> uma mesma velocidade<br />

de um lado e do outro: "o átomo vai tão rápido quanto o pensamento"(3). O plano de imanência tem duas<br />

faces, como Pensamento e como Natureza, como Physis e como Noüs. <strong>É</strong> por isso que há sempre muitos<br />

movimentos infinitos presos uns nos outros, dobrados uns nos outros, na medida em que o retorno de um<br />

relança um outro instantaneamente, de tal maneira que o pla-<br />

(3) Epicuro, Carta a Heródoto, 61-62.<br />

no de imanência não pára de se tecer, gigantesco tear. Vol-tar-se-para não implica somente se desviar, mas<br />

enfrentar, voltar-se, retornar, perder-se, apagar-se4. Mesmo o negativo produz movimentos infinitos: cair no<br />

erro, bem como evitar o falso, deixar-se dominar pelas paixões, bem como superá-las. Diversos movimentos<br />

do infinito são de tal maneira misturados uns com os outros que, longe de romper o Uno-Todo do plano de<br />

imanência, constituem sua curvatura variável, as concavidades e as convexidades, a natureza fractal de<br />

alguma maneira. <strong>É</strong> esta natureza fractal que faz do planômeno um infinito sempre diferente de toda superfície<br />

ou volume determinável como conceito. Cada movimento percorre todo o plano, fazendo um retorno imediato<br />

sobre si mesmo, cada um se dobrando, mas também dobrando outros ou deixando-se dobrar, engendrando<br />

retroações, conexões, proliferações, na fractalização desta infinidade infinitamente redobrada (curvatura<br />

variável do plano). Mas, se é verdade que o plano de imanência é sempre único, sendo ele mesmo variação<br />

pura, tanto mais necessário será explicar por que há planos de imanência variados, distintos, que se sucedem<br />

ou rivalizam na história, precisamente segundo os movimentos infinitos retidos, selecionados. O plano não é,<br />

certamente, o mesmo nos gregos, no século XVII, hoje (e ainda estes termos são vagos e gerais): não é nem<br />

a mesma imagem do pensamento, nem a mesma matéria do ser. O plano é pois o objeto de uma<br />

especificação infinita, que faz com que ele não pareça ser o Uno-Todo senão em cada caso especificado pela<br />

seleção do movimento. Esta dificuldade concernente à natureza última do plano de imanência só pode ser<br />

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