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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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saliente-se uma vez mais – foi o aparecimento da fiscalização mútua entre as próprias<br />

colegas de “célula” e a ocorrência de uma série de conflitos, <strong>do</strong>s quais o caso de Lúcia<br />

constitui apenas um exemplo extremo. Por conseguinte, podemos inferir que as conversas,<br />

as “fofocas”, as brincadeiras tenham si<strong>do</strong> reduzidas em decorrência <strong>do</strong> aumento da<br />

“pressão” por produção e qualidade que o sistema de “célula” supõe. Com efeito, a fala de<br />

Lúcia segun<strong>do</strong> a qual “antes as meninas eram mais amigas”, parece uma confirmação<br />

nativa destas alterações na sociabilidade operária. Entretanto, nada nos autoriza a supor que<br />

uma redução de tais práticas possa ser interpretada como uma destruição das mesmas.<br />

Além da sala de costura, consideremos outros lugares de sociabilidade operária.<br />

O refeitório é certamente um destes lugares. No horário <strong>do</strong> almoço – ao contrário <strong>do</strong><br />

fim <strong>do</strong> expediente, quan<strong>do</strong> um grande número de operárias corre cada uma em direção ao<br />

seu destino individual – as costureiras saem em direção ao refeitório invariavelmente em<br />

grupos de três ou quatro. O ritmo <strong>do</strong> caminhar varia intermitentemente, de acor<strong>do</strong> com cada<br />

grupo, entre apreça<strong>do</strong> e despreocupa<strong>do</strong>. Não é incomum ouvir uma costureira mais atrasada<br />

em seus passos pedir ao grupo de suas colegas para esperar para que elas possam almoçar<br />

juntas. Alguém que observe os hábitos das operárias, no interior <strong>do</strong> refeitório, através das<br />

largas janelas de que o prédio social da Filó dispõe 74 , não poderá deixar de notar a prática<br />

cotidiana que elas levam a efeito de juntar duas ou três mesas para que todas as<br />

companheiras possam fazer suas refeições em presença umas das outras. Seriam os<br />

membros destes grupos operárias da mesma “célula”?<br />

“Tem grupos que são de amigas já antigas, que trabalhavam<br />

juntas, mas mudaram de sala. Tem outros, como é o nosso caso,<br />

que são colegas da mesma sala. Tem “célula” mais tranqüila que<br />

almoça junta também. Isso depende muito, sabe? Não tem regra<br />

não, menino”. (Costureira de 51 anos).<br />

Embora, como minha interlocutora diz, não haja regra para a definição de quem<br />

almoça junto, no refeitório, de sua fala também se depreende que o sistema de “célula”<br />

impõe certos constrangimentos a esta prática. Assim, as “células” que almoçam juntas são<br />

aquelas “mais tranqüilas”, isto é, aquelas com menos conflitos. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, sob meu<br />

74 Infelizmente não me foi permiti<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong> trabalho de campo, visitar o refeitório da Filó – outrora por<br />

mim amplamente freqüenta<strong>do</strong>. Minhas observações de longe, entretanto, foram suficientes para demonstrar<br />

que certas práticas de sociabilidade não desapareceram ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

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