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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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incadeiras, sociabilidade e os próprios “benefícios sociais” legitima<strong>do</strong>res de tais<br />

condições degradantes. Fornecerei aqui apenas um exemplo de diálogo que tive com um<br />

grupo de três costureiras no dia 29 de Maio de 2008, na fábrica Gescri Lingeries.<br />

Obviamente no horário de almoço.<br />

Por esta ocasião, quan<strong>do</strong> cheguei no quarteirão onde se situa a fábrica encaminhei-<br />

me, como de costume, para a calçada na qual as costureiras freqüentemente se sentam para<br />

pegar um sol. Muitas delas, entretanto, saem corren<strong>do</strong> para resolver qualquer coisa na rua<br />

neste tempo vago, outras ficam dentro da fábrica, na sala de televisão ou no salão de jogos<br />

de mesa. De mo<strong>do</strong> que não é fácil abordar alguém disposto a conversar um pouco. Depois<br />

de algum tempo procuran<strong>do</strong> alguém menos apreça<strong>do</strong> com quem eu pudesse conversar,<br />

consigo falar com duas meninas bastante simpáticas que permitem a aproximação.<br />

Juntamente com as duas havia uma terceira operária mais afastada e reticente que, por sua<br />

vez, teve uma reação bastante típica às minhas abordagens. Anunciei-me dizen<strong>do</strong> que fazia<br />

uma pesquisa sobre a vida das costureiras e que gostaria de conversar com elas à respeito.<br />

A referida garota balança então a cabeça negativamente – “Não vai sair coisa boa não” –<br />

diz ela em um tom seco bastante expressivo de um certo ceticismo. A mais simpática dentre<br />

as três começa dizen<strong>do</strong> que a vida dela consiste em acordar ce<strong>do</strong>, agüentar a “pressão” e o<br />

estresse da fábrica, voltar para a casa e suportar mais estresse. A mulher que não tinha dito<br />

nada até então mencionou o problema <strong>do</strong>s serões (horas extras) – “Nossa vida é trabalhar e<br />

fazer serão” – diz ela. Pergunto como é a remuneração <strong>do</strong>s serões, se o adicional é pago<br />

corretamente, etc. Elas dizem que a remuneração é maior, mas que elas teriam que calcular<br />

sobre a hora normal para ver se a hora extra está de acor<strong>do</strong> com a lei. Elas afirmam que ali<br />

não paga bem não, que outras confecções são melhores. “É tu<strong>do</strong> a mesma coisa, toda<br />

fábrica é igual” – diz a mais cética <strong>do</strong> grupo – “E nem adianta calcular essa coisa de hora<br />

extra, alguém vai reclamar?” – pergunta já se afastan<strong>do</strong>. De maneira que permanecem<br />

apenas as duas moças mais comunicativas.<br />

Pergunto qual é o sistema de produção da fábrica – se por célula ou individual. Elas<br />

respondem que é individual e que cada especialidade recebe um prêmio diferente – “A<br />

costureira de Overlock ganha um tanto, a de três pontos, outro, a Travet, outro, entendeu?”<br />

– explica a mais falante dentre as duas. E continua dizen<strong>do</strong> que prefere trabalhar na Travet<br />

porque o processo é mais simples, por conseguinte, facilitan<strong>do</strong> a produtividade. “As<br />

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