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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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A saída <strong>do</strong> expediente parece acompanhar o ritmo frenético da<br />

produção no sistema de “célula”. A impressionante afobação com a qual<br />

atravessam o pavimento principal da fábrica não pode deixar de acarretar,<br />

eventualmente, um esbarrão ou outro entre as costureiras. Tu<strong>do</strong> se passa<br />

como se a jornada de trabalho diária não tivesse efetivamente chega<strong>do</strong> ao<br />

fim. Com efeito, observan<strong>do</strong>-as correr com tamanho açodamento não<br />

pude evitar pensar na questão da dupla jornada de trabalho que as<br />

mulheres comumente enfrentam diariamente.”<br />

Já aqui está colocada a pressão <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong>méstico, freqüentemente um segun<strong>do</strong><br />

local de trabalho. Encontrei ainda outras dificuldades na investigação de campo, igualmente<br />

significativas de certas relações sociais imanentes à vida da maioria das costureiras de<br />

lingerie de Nova Friburgo. Dificuldades relacionadas a questões de identidade de gênero. O<br />

fato, por exemplo, de o pesquisa<strong>do</strong>r ser <strong>do</strong> sexo masculino em um ambiente profissional<br />

pre<strong>do</strong>minantemente feminino acarretou, neste contexto, alguns problemas de interação. Um<br />

destes problemas diz respeito também às relações conjugais entre as costureiras casadas.<br />

Assim, à pressão <strong>do</strong> tempo, à imposição da urgência na vida das costureiras de lingerie –<br />

imposição que, obviamente, concede pouco espaço a entrevistas antropológicas –, importa<br />

adicionar a questão das relações conjugais características das famílias operárias. Também<br />

no caso particular das trabalha<strong>do</strong>ras da roupas íntimas de Nova Friburgo deparei-me com<br />

um padrão de relações conjugais mais difundi<strong>do</strong>s nos meios operários, já largamente<br />

registra<strong>do</strong> pela bibliografia especializada 7 . Trata-se da <strong>do</strong>minação masculina sobre o direito<br />

feminino de se comunicar ou não com o mun<strong>do</strong> exterior à esfera <strong>do</strong>méstica, contrapartida<br />

de “um <strong>do</strong>s mais antigos privilégios masculinos” – a saber, segun<strong>do</strong> Schwartz, “o direito de<br />

sair” (ibidem: 208). Este é um tema de fundamental importância para os propósitos desta<br />

investigação que será retoma<strong>do</strong> no último capítulo deste trabalho. Aqui basta inferir que o<br />

monopólio masculino sobre a maioria das opções de lazer (ibidem: 212), oferecidas fora da<br />

esfera <strong>do</strong>méstica, sustenta-se no mesmo princípio subjacente às dificuldades que um<br />

pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sexo masculino encontra em entrevistar as operárias de lingerie de Nova<br />

7 Sobretu<strong>do</strong> em Schwartz, Oliver. 1990. Le monde prive des ouvriers: hommes et femmes du Nord. Paris:<br />

Quadrige/ Press Universitaires de France.<br />

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