wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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venerada “flexibilidade” pós-fordista – à sua baixa qualificação <strong>do</strong> ponto de vista das novas<br />
estratégias de produção patronal, etc.<br />
A referida fala da consultora <strong>do</strong> SENAI a respeito das palestras motivacionais com<br />
as costureiras expressa, de mo<strong>do</strong> similar, a centralidade <strong>do</strong>s “pressupostos cognitivos”<br />
(ibidem: 28) subjecentes às ações de mudança <strong>do</strong> processo produtivo – a saber, a tentativa<br />
de fazer com que o operário conheça e, mais que isso, reconheça uma certa “verdade”<br />
segun<strong>do</strong> a qual ele tem a obrigação de “pensar no ideal da empresa”, “que para eu (o<br />
operário) receber meu salário no fim <strong>do</strong> mês a empresa tem que esta bem” –; bem como de<br />
seus “pressupostos pedagógicos” (ibidem: 28) – quais sejam, as estratégias patronais de<br />
treinamento de pessoal que se amparam fundamentalmente na idéia de “engenharia” de<br />
formação profissional. Um conceito que pressupõe que as mudanças de comportamento são<br />
ativadas em decorrência <strong>do</strong> “treinamento” e, quan<strong>do</strong> muito (nos casos menos<br />
comportamentalistas), de uma “tomada de consciência” <strong>do</strong>s princípios que fundamentam a<br />
mudança. Por conseguinte, a noção empresarial de engenharia de formação ignora um<br />
aspecto fundamental da teoria da ação – a saber, que o comportamento humano não é<br />
guia<strong>do</strong> meramente (ou nem mesmo majoritariamente) pela ação da consciência, mas<br />
orienta-se pelos aspectos incorpora<strong>do</strong>s das estruturas sociais no interior das quais a ação<br />
acontece (Bourdieu, op. cit.).<br />
Há também que se considerar as diferenças significativas que os procedimentos de<br />
mudança produtiva implementa<strong>do</strong>s pelas empresas de lingerie de Nova Friburgo<br />
apresentam em relação aos processos classicamente equaciona<strong>do</strong>s com o sistema pós-<br />
fordista de produção. Por exemplo, a rigidez de horários claramente conservada – e até<br />
mesmo, em alguns casos, radicalizada – por tais empresas. Assim, a Triumph, dentre o<br />
conjunto de seus procedimentos de reestruturação produtiva, acabou com o sistema de <strong>do</strong>is<br />
turnos (manhã e tarde) que era muito aprecia<strong>do</strong> por um quantitativo eleva<strong>do</strong> de operárias, e<br />
implantou um único turno que se inicia ás 7:00 e termina às 17:00 horas, com exceção das<br />
sextas-feiras, quan<strong>do</strong> a jornada finaliza às 16:00 horas. Esta estratégia certamente constituiu<br />
um “tiro no pé” da empresa, em seu intuito de mobilizar as costureiras a “vestirem a<br />
camisa” de seu ideal. A queda das gratificações por qualidade e produtividade é outro<br />
aspecto que não se coaduna com as modalidades de estímulo à auto-exploração das novas<br />
formas de exploração da mão de obra operária. A agravamento das formas de vigilância e<br />
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