wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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faz? Pega o modelo produzi<strong>do</strong> em uma e passa pra outra e viceversa.<br />
E aí obviamente elas vão ralar novamente para se adaptar ao<br />
novo modelo. Se adaptou, troca novamente. Aí as costureiras<br />
conseguem atingir a meta da empresa, mas não a sua meta pessoal<br />
de conseguir uma boa gratificação por produção. As gratificações<br />
por produção na esteira eram muito maiores. Foi uma mudança que<br />
conseguiu aumentar a produção e diminuir as gratificações ao<br />
mesmo tempo. Quem inventou este processo é muito esperto. Esta<br />
é uma forma de controle muito grande da empresa sobre as<br />
operárias. Sem que os patrões precisem se mexer a engrenagem<br />
funciona perfeitamente. Os supervisores não precisam tomar<br />
atitude nenhuma, não precisam chamar a atenção de ninguém<br />
porque os próprios funcionários já se encarregam disso”.<br />
A passagem de um processo produtivo que, para efeito meramente argumentativo,<br />
poderíamos chamar de fordista para um outro que mistura um princípio de fragmentação da<br />
produção por “facção” (que, também precariamente, poderia se chamar toyotista) com um<br />
dispositivo de cooperação compulsória, acompanha-se de um reordenamento espaço-<br />
temporal da produção. “A disciplina procede em primeiro lugar à distribuição <strong>do</strong>s<br />
indivíduos no espaço”.(Foulcault, op. cit: 130). A fragmentação de uma grande esteira<br />
produtiva, amiúde com mais de cem costureiras, em pequenas células produtivas, com dez<br />
ou <strong>do</strong>ze costureiras em cada uma é um excelente mecanismo de controle das operárias. Não<br />
mais dispostas em filas (um antigo dispositivo espacial de vigilância), ao longo da esteira<br />
de produção, as operárias a partir de agora podem ser identificadas de acor<strong>do</strong> com seu<br />
pertencimento a uma célula, em meio a muitas. Trata-se, segun<strong>do</strong> me parece, de uma<br />
classificação – ou da definição de “localizações funcionais” (Ibidem: 131) de acor<strong>do</strong> com<br />
cada processo de montagem da peça –, de um “esquadrinhamento” e de um<br />
“quadriculamento” (ibidem: 131) <strong>do</strong> espaço que engendra um inexorável dispositivo<br />
“panóptico”, no interior <strong>do</strong> qual as operárias se sentem vigiadas durante to<strong>do</strong> o expediente.<br />
O quadriculamento e a classificação das operárias não se dão apenas na distribuição<br />
espacial da sala de costura. Processa-se igualmente por meio de um equacionamento entre<br />
processos de montagem da peça (overlock, instalação de elástico, de bojo, etc.) e as<br />
costureiras que correspondem a cada um <strong>do</strong>s processos. Desta forma, quem prega o elástico<br />
é localizada na tabela de registro da produção (a tabela à que a costureira da Triumph se<br />
refere na página 68 e 69) não pelo nome, mas pelo processo que realiza. Opera-se, portanto,<br />
uma classificação no quadro de registro (um “quadriculamento”, segun<strong>do</strong> Foulcault) de<br />
cada uma das funcionárias da sala de costura.<br />
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