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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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“Eles ficavam em cima da gente dan<strong>do</strong> ordens, nos<br />

apressan<strong>do</strong>, nos corrigin<strong>do</strong>, falan<strong>do</strong> com aquele ar de superior, com<br />

palavras de efeito. Até as nossas supervisoras falavam baixinho<br />

que eles eram insuportáveis. Então era difícil trabalhar, aprender a<br />

costurar numa máquina como a Três Pontos com aquele pessoal em<br />

cima da gente.” (Costureira da Trumph de 38 anos).<br />

Desta maneira, a presença <strong>do</strong>s técnicos <strong>do</strong><br />

SENAI adicionou à pressão tradicional <strong>do</strong>s patrões<br />

sobre as empregadas – “pressão” por produtividade<br />

e por qualidade – uma segunda pressão<br />

materializada na exigência de um enquadramento<br />

comportamental das costureiras no interior <strong>do</strong>s<br />

novos dispositivos de controle de qualidade e<br />

produtividade, eles próprios dispositivos de controle<br />

social. O seguinte depoimento – a mim forneci<strong>do</strong><br />

por uma ex-costureira da Triumph e da Cor da Pele<br />

que acompanhou o processo de implementação <strong>do</strong><br />

sistema de “célula” pelo SENAI em ambas as<br />

fábricas – sintetiza com clareza meridiana o ponto<br />

de vista das operárias no que concerne à presença e<br />

atuação <strong>do</strong>s técnicos:<br />

“Primeiro eles fizeram uma palestra para explicar para os<br />

patrões e para os emprega<strong>do</strong>s como funciona a ‘célula’. Depois<br />

organizaram as maquinas (fizeram a manutenção, regularam<br />

certinho). Aos poucos foram transferin<strong>do</strong> as costureiras para as<br />

máquinas. Foram eles que, junto com os patrões, definiram quem<br />

ia ficar em cada ‘célula’. Cronometraram para poder definir o<br />

tempo padrão de cada operação, esta cronometragem nunca<br />

funcionou. Primeiro porque, quan<strong>do</strong> as costureiras chegavam a<br />

atingir os cem por cento de produção o patrão ia lá e aumentava a<br />

meta. Depois porque o pessoal <strong>do</strong> SENAI cronometrou muita coisa<br />

errada também. Não sei se é erra<strong>do</strong> sabe, é mania de agente de falar<br />

que tava erra<strong>do</strong>. Porque agente acha que atrapalha, porque agente<br />

tá bem, tá numa boa, e chega um pessoal e diz que agente tem que<br />

fazer de outro jeito, pra gente esquecer o jeito antigo de fazer. Aí<br />

eles determinavam um tempo pra gente fazer aquela caixa de<br />

serviço. E diziam que já tinham incluí<strong>do</strong> o tempo pra ir ao<br />

banheiro, o tempo <strong>do</strong> nervosismo (porque quan<strong>do</strong> tem alguém<br />

cronometran<strong>do</strong> agente fica nervosa, né), o ‘tempo de fadiga’ –<br />

porque eles diziam que depois <strong>do</strong> almoço dava fadiga, eles tinham<br />

explicação pra tu<strong>do</strong>, mesmo quan<strong>do</strong> não sabiam direito <strong>do</strong> que<br />

estavam falan<strong>do</strong>. Mas o tempo que eles determinavam não dava<br />

nem para fazer a peça. Tanto é que as meninas deixaram de beber<br />

água para não precisar ir ao banheiro”.<br />

Os pressupostos equivoca<strong>do</strong>s sobre os quais se<br />

sustentam as estratégias de re-socialização <strong>do</strong>s<br />

operários sob a perspectiva <strong>do</strong> novo sistema<br />

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