wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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Há, portanto, diferenças significativas entre a<br />
condição das ajudantes e embaladeiras, por um la<strong>do</strong>;<br />
e das costureiras de lingerie, por outro – de faixa<br />
etária, de remuneração, de status no interior da<br />
configuração hierárquica de uma sala de costura e,<br />
mais fundamentalmente ainda, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> que cada<br />
uma delas conferem ao seu trabalho (as primeiras,<br />
ao contrário das últimas encaran<strong>do</strong> sua condição<br />
como temporária). De maneira que um relato<br />
consistente sobre as ajudantes mereceria um<br />
trabalho à parte. Por conseguinte, estas notas<br />
<strong>do</strong>ravante estarão concentradas exclusivamente<br />
sobre o caso das costureiras de lingerie.<br />
Esta longa descrição das etapas <strong>do</strong> processo<br />
produtivo no sistema de produção individualiza<strong>do</strong><br />
se presta a um objetivo simples. Evidenciar que, a<br />
despeito de toda diferenciação interna <strong>do</strong> grupo de<br />
costureiras de roupas íntimas – diferenciações de<br />
prestígio que, entretanto, se plasmam a partir <strong>do</strong><br />
ponto de vista patronal – as relações de<br />
sociabilidade operária descritas por Lúcia não<br />
parecem ser significativamente afetadas, no sistema<br />
de produção individualiza<strong>do</strong>. Mas este fato só ficará<br />
suficientemente claro quan<strong>do</strong> o material apresenta<strong>do</strong><br />
aqui puder ser coteja<strong>do</strong> com as reais práticas de<br />
sociabilidade que serão apresentadas no fim deste<br />
capítulo.<br />
A individualização aqui não apenas difere da<br />
acepção de Tarrail referida na nota 54 deste<br />
trabalho, mas parece mesmo assumir um senti<strong>do</strong><br />
simétrico e inverso. Para Terrail, a individualização<br />
se processa sobre as relações sociais das classes<br />
operárias em decorrência de alterações nas<br />
estruturas objetivas <strong>do</strong> capitalismo contemporâneo.<br />
Aqui, ao contrário, são as estruturas objetivas <strong>do</strong><br />
processo produtivo que, pelo fato mesmo de serem<br />
incorporadas pelas operárias sob uma forma<br />
individualizada, não chegam a repercutir em suas<br />
relações de solidariedade e em suas práticas de<br />
sociabilidade.<br />
Mas em que medida o inverso será verdadeiro? Em<br />
outras palavras, uma coletivização <strong>do</strong>s dispositivos<br />
de exploração da mão-de-obra das costureiras de<br />
lingerie, tal como materializada no sistema de<br />
“célula”, terá como contrapartida o processo de<br />
“individualização” das relações sociais evoca<strong>do</strong> por<br />
Terrail? Olhemos, pois, primeiramente para tais<br />
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