wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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em aprender as operações específicas desta<br />
especialidade e, eventualmente, ascender na<br />
hierarquia social da fábrica para além da posição<br />
das costureiras de Overlock, Interlock ou Travet. A<br />
respeito da condição de aprendiz das embaladeiras e<br />
ajudantes – como também das costureiras, já que há<br />
uma tendência crescente ao estímulo da polivalência<br />
e, portanto, ao aprendiza<strong>do</strong> de todas as<br />
especialidades de costura por parte das operárias de<br />
lingerie – o discurso nativo apresenta também um<br />
componente moral muito marca<strong>do</strong>.<br />
“Têm muita ajudante que eu conheci que era mais velha<br />
que eu. Que passou a vida como ajudante. Agora, se a<br />
pessoa tiver boa vontade pra aprender, ela aprende.<br />
Normalmente as ajudantes que querem, passam a<br />
costureiras. Como as costureiras também, se quiserem<br />
aprender a trabalhar em várias máquinas elas aprendem.<br />
Mas tem que ter boa vontade”.(Costureira polivalente 35<br />
anos, ex-embaladeira, os grifos são meus e correspondem<br />
às entonações marcadas de minha entrevistada.).<br />
O discurso da “boa vontade” aparece como<br />
argumento de legitimação e de auto-valorização <strong>do</strong><br />
trabalho das costureiras como também de seus<br />
maiores rendimentos comparativamente às<br />
ajudantes. Em linhas gerais, estas últimas recebem<br />
um salário mínimo, com pequenas variações de uma<br />
fábrica para a outra. Muitas, entretanto –<br />
especialmente aquelas de faixas etárias mais baixas<br />
– não se interessam em aprender o ofício de<br />
costureira por encarar seu trabalho como<br />
temporário.<br />
Com efeito, algumas delas empregam-se neste<br />
ramo, como meio exclusivo de arcar com as<br />
despesas de uma graduação nas universidades<br />
privadas locais. Similarmente ao caso <strong>do</strong> mecânico<br />
e, certamente também, de certas costureiras das<br />
gerações mais recentes, amiúde as ajudantes e<br />
embaladeiras trabalham para custear seus estu<strong>do</strong>s.<br />
Este é, de fato, um fenômeno crescente no<br />
município de Nova Friburgo em decorrência de <strong>do</strong>is<br />
aspectos desarticula<strong>do</strong>s entre si: 1- o relativo amplo<br />
espectro de postos de trabalho no setor de moda<br />
íntima local 67 ; e 2- um crescimento significativo de<br />
vagas em universidades privadas, nos últimos anos.<br />
67 A ampla oferta de empregos pelo setor de “moda íntima” e o ambíguo discurso empresarial da<br />
“empregabilidade” das costureiras que o acompanha será tematiza<strong>do</strong> ulteriormente.<br />
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