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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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costureira de Três Pontos confere maior beleza à peça por<br />

lhe aplicar uma costura em zig-zag muito valorizada no<br />

merca<strong>do</strong> da moda. Até aqui o maior prestígio da<br />

costureira de Três Pontos foi considera<strong>do</strong> como um efeito<br />

<strong>do</strong> dispositivo de distinção (Bourdieu, op. cit.) que a<br />

exaltação estética <strong>do</strong> acabamento constitui. Embora este<br />

me pareça um argumento razoável para a interpretação<br />

das hierarquias internas de uma sala de costura, um outro<br />

aspecto, mais confuso, aparece também eventualmente.<br />

Trata-se da questão da complexidade da operação. A este<br />

respeito o discurso das costureiras parece apresentar<br />

certas ambigüidades.<br />

Entrevista<strong>do</strong>r: “O trabalho na Três Pontos é mais difícil que nas<br />

demais máquinas?”<br />

Entrevistada: “Não, se a costureira tem prática, não é mais difícil<br />

não. Você diz para aprender?”<br />

Entrevista<strong>do</strong>r: “Sim”.<br />

Entrevistada: “É, para aprender é mais difícil, porque nas outras<br />

máquinas têm três agulhas também, mas é tu<strong>do</strong> na parte de cima.<br />

Na Três Pontos, têm uma agulha embaixo. Você tem que saber<br />

regular bem a máquina porque senão a linha arrebenta toda hora.<br />

Tem que ter uma mão boa também para passar a costura sobre o<br />

elástico. Então, para aprender é mais difícil sim”.(Entrevista com<br />

uma costureira polivalente – corta<strong>do</strong>ra, overlockista,<br />

interlockista, e costureira de Três Pontos.).<br />

A ambigüidade da resposta, segun<strong>do</strong> a interpretação da<br />

própria entrevistada, corresponde à variação de pontos de<br />

referência a partir <strong>do</strong>s quais a pergunta pode ser feita. Se<br />

perguntarmos sobre a complexidade da costura de Três<br />

Pontos ten<strong>do</strong> por referência o processo em si mesmo,<br />

então a resposta é sim, o processo é mais difícil de<br />

aprender. Mas, <strong>do</strong> ponto de vista da produção, “se a<br />

costureira tem prática”, a operação é como as demais. Não<br />

ser mais complexa que as demais, neste último senti<strong>do</strong>,<br />

quer dizer que a costureira de Três Pontos pode dar tanta<br />

produtividade quanto as outras. Ou melhor, ela pode dar<br />

uma produção sobremo<strong>do</strong> superior em termos<br />

quantitativos que certas costureiras, em especial a<br />

costureira de Overlock. Desta maneira, quan<strong>do</strong> a<br />

entrevistada afirma que o processo não é mais complexo<br />

que os outros, podemos interpretar esta declaração como<br />

uma desautorização das maiores gratificações concedidas<br />

a esta operação. Com efeito, ela continua:<br />

“Se uma confecção tem uma máquina de Três Pontos, uma<br />

Interlock e uma Travet, então ela vai ter que ter umas seis<br />

máquinas de Overlock para dar conta de toda a produção. O que<br />

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