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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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individualizadas e não incidem sobre a remuneração de<br />

outra companheira de trabalho. Na Triumph International<br />

as costureiras se dispõem nas máquinas que ficam<br />

organizadas lateralmente, ao longo de toda a extensão de<br />

uma esteira eletrônica típica <strong>do</strong>s processos industriais<br />

caracteriza<strong>do</strong>s genericamente como fordistas. Ali cada<br />

costureira retira caixas com peças de lingeries nos<br />

estágios de montagem correspondentes a cada<br />

especialidade das costureiras. Nas demais fábricas de<br />

Nova Friburgo não encontramos a esteira eletrônica.<br />

Neste caso as máquinas são dispostas em fila e as caixas<br />

vão passan<strong>do</strong> de mão em mão até o processo final de<br />

confecção <strong>do</strong> lingerie. Já vimos em que consiste o<br />

trabalho <strong>do</strong> corta<strong>do</strong>r, a primeira etapa da confecção <strong>do</strong><br />

lingerie. Sigamos agora este itinerário das peças, a partir<br />

<strong>do</strong> trabalho das costureiras 62 .<br />

A montagem da peça de lingerie é feita pela costureira de<br />

máquina de overlock. Aos olhos de um observa<strong>do</strong>r<br />

externo este poderia ser considera<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s<br />

procedimentos mais importantes de to<strong>do</strong> o processo<br />

produtivo de uma sala de costura. Porquanto é aqui que as<br />

partes soltas <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> são combinadas, forman<strong>do</strong> a<br />

estrutura básica da peça que, em seguida, carece apenas<br />

da aplicação de elástico e <strong>do</strong> acabamento. Entretanto, não<br />

é este o caso; em primeiro lugar, de um mo<strong>do</strong> subsidiário,<br />

pela simplicidade 63 <strong>do</strong> trabalho comparativamente às<br />

62 Embora o percurso descritivo deste itinerário possa dar a impressão <strong>do</strong> contrário não se tratam, certamente,<br />

de fases que se sucedem em uma escala diacrônica, mas que coexistem sincronicamente na sala de costura.<br />

“A observação de determina<strong>do</strong> quantum de matéria-prima, por exemplo, de trapos na manufatura de papel<br />

ou de arame na manufatura de agulhas, mostra que ela percorre, nas mãos <strong>do</strong>s diferentes trabalha<strong>do</strong>res<br />

parciais, uma seqüência cronológica de fases de produção até chegar a sua figura final. Mas se observarmos<br />

pelo contrário a oficina como um mecanismo global, vemos que a matéria-prima se encontra<br />

simultaneamente em todas as suas fases de produção de uma vez. Com uma parte de suas muitas mãos<br />

armadas de instrumentos, o trabalha<strong>do</strong>r coletivo, forma<strong>do</strong> pela combinação de trabalha<strong>do</strong>res detalhistas,<br />

estira o arame, enquanto simultaneamente com outras mãos e outras ferramentas o estica, com outras o<br />

corta, o aponta etc. De uma sucessão no tempo, os diversos processos graduais transformam-se em uma<br />

justaposição no espaço.” (Marx, 1983:272-273).<br />

É interessante notar que a caracterização de Marx das especialidades como “trabalha<strong>do</strong>res detalhistas”<br />

coaduna-se com as definições bem marcadas das fronteiras entre as especialidades, no sistema de produção<br />

individualiza<strong>do</strong>. O que deixa de ocorrer com a coletivização da produção onde as muitas mãos <strong>do</strong><br />

“trabalha<strong>do</strong>r coletivo” de Marx passam todas a “organelas” polivalentes de cada “célula” de produção. A<br />

“célula” representa, por conseguinte, uma parte holográfica que ilustra a estrutura da própria sala de<br />

costura. É interessante notar a semelhança desta estrutura com a noção de “rede” (Boltanshi & Chiapello,<br />

2002) que foi incorporada ao discurso empresarial por meio de uma leitura merca<strong>do</strong>lógica <strong>do</strong> discurso<br />

científico. No caso particular <strong>do</strong> sistema de produção em “célula” é possível ver semelhanças significativas<br />

com a obra de Fritjof Capra, particularmente em Capra, Fritjof. 1996. A Teia da Vida: uma nova<br />

compreensão científica <strong>do</strong>s sistemas vivos. São Paulo: Cultrix.<br />

63 As noções de “simplicidade” ou “complexidade” das operações realizadas pelas costureiras de roupas<br />

íntimas apresentam uma certa ambigüidade e dependem <strong>do</strong> ponto de referência a partir <strong>do</strong> qual elas são<br />

consideradas. De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, o discurso da simplicidade/complexidade incide muito pouco (salvo no caso<br />

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