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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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sensação de vigilância integral segun<strong>do</strong> o modelo<br />

panóptico (Foulcault, op. cit.) sobre o trabalha<strong>do</strong>r, abrese,<br />

então, a possibilidade de um impasse entre a palavra<br />

<strong>do</strong> corta<strong>do</strong>r e a da costureira – muitas vezes com o<br />

prestígio <strong>do</strong> primeiro pesan<strong>do</strong> mais na opinião patronal<br />

que, por sua vez, atribui o defeito ao la<strong>do</strong> mais fraco, a<br />

saber, às costureiras.<br />

Estão dadas, por conseguinte, as condições sob as quais o<br />

processo produtivo pode incidir nas relações sociais e nas<br />

práticas de sociabilidade entre os operários. Obviamente o<br />

defeito na peça abre a possibilidade de conflito,<br />

condiciona-o, mas não determina que inexoravelmente<br />

haverá desavença entre corta<strong>do</strong>res e costureiras. Não<br />

obstante, este parece ser um caso particular, “mas<br />

particularmente freqüente”, para empregar, uma vez mais,<br />

a expressão de Bourdieu. As discussões beiram, muitas<br />

vezes, o desrespeito e se caracterizam com freqüência<br />

pela presença de ofensas pessoais. “Tem muita coisa que<br />

rola entre o corta<strong>do</strong>r e a costureira que você não pode<br />

escrever aí não” – adverte-me uma informante – “A coisa<br />

não tem muito respeito não!”.<br />

Voltamos, portanto, ao problema das diferenças entre as<br />

posições relativas <strong>do</strong> mecânico e <strong>do</strong> corta<strong>do</strong>r frente ás<br />

costureiras. A distância <strong>do</strong> mecânico em relação a estas<br />

em decorrência de seu caráter itinerante, se converte em<br />

proximidade por conta <strong>do</strong> relaxamento da vigilância no<br />

regime de exceção que se instaura por ocasião da quebra<br />

da máquina. Nesse senti<strong>do</strong> – e consideran<strong>do</strong>-se também<br />

que o mecânico está ali para ajudar a costureira,<br />

consertan<strong>do</strong> sua máquina – as estruturas objetivas da<br />

relação mecânico/costureira condicionam condições mais<br />

favoráveis ao clima lúdico que então se constitui.<br />

Ao contrário, a proximidade entre corta<strong>do</strong>res e costureiras<br />

é convertida em distância pelo regime de vigilância que<br />

constitui regra nos momentos ordinários <strong>do</strong> trabalho nas<br />

salas de costura. Esta distância, por seu turno, é<br />

duplamente reforçada pelo caráter mesmo <strong>do</strong> processo<br />

produtivo de lingerie e pela “pressão” pela qualidade que,<br />

eventualmente, acarreta acusações mutuas entre<br />

corta<strong>do</strong>res e costureiras. Destarte, as estruturas objetivas<br />

que fazem a mediação das relações de trabalho entre<br />

ambos condicionam, neste caso, condições pouco<br />

favoráveis ao estabelecimento da ludicidade e da<br />

sociabilidade. Entretanto, parece ter fica<strong>do</strong> evidente que<br />

mecânicos e corta<strong>do</strong>res compartilham uma característica<br />

estrutural importante – a saber, o fato de que ambos<br />

constituem personagens invariavelmente masculinos e,<br />

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