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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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61 Leite Lopes, op. cit:26.<br />

costureiras tanto quanto no seu próprio – mas em<br />

decorrência da “responsabilidade” com a qual é investi<strong>do</strong>.<br />

O processo de “enfestar” é um caso privilegia<strong>do</strong> a este<br />

respeito; nele encontramos um exemplo homólogo ao <strong>do</strong>s<br />

operários <strong>do</strong> açúcar, no “Vapor <strong>do</strong> Diabo”, e seu discurso<br />

da responsabilidade e a preocupação com “não danificar o<br />

material <strong>do</strong> homem” 61 .<br />

“Enfestar é o processo de empilhar o teci<strong>do</strong> sobre a mesa. O<br />

teci<strong>do</strong> é enorme né? De acor<strong>do</strong> com o molde de papel agente<br />

risca o teci<strong>do</strong> que ficará por cima das outras camadas. Então<br />

agente coloca o teci<strong>do</strong> sobre a mesa e vai <strong>do</strong>bran<strong>do</strong> várias<br />

camadas de teci<strong>do</strong> umas sobre as outras. O teci<strong>do</strong> não pode<br />

enrugar, porque se enrugar a peça sai torta, desperdiça material.<br />

Então tem que fazer isso sempre com uma cantoneira. Às vezes<br />

são várias camadas de teci<strong>do</strong>; tem teci<strong>do</strong> verde, amarelo,<br />

vermelho... E vai empilhan<strong>do</strong> um sobre o outro. Às vezes é<br />

preciso colar, por isso que ás vezes a peça vem com esta marca<br />

aqui (me mostra uma marca de cola no teci<strong>do</strong>). Colan<strong>do</strong> ele fica<br />

esticadinho. Então tem essa responsabilidade de não desperdiçar<br />

o material.” (corta<strong>do</strong>r de serra fita, 38 anos).<br />

O discurso da responsabilidade investida sobre os<br />

corta<strong>do</strong>res é compartilha<strong>do</strong> também por costureiras e<br />

patrões e legitima, portanto, a maior valorização<br />

econômica e social (sob o ponto de vista patronal) <strong>do</strong>s<br />

primeiros. Quanto à valorização social no interior da<br />

figuração específica de uma sala de costura – isto é, a<br />

valorização social sob o ponto de vista das operárias – a<br />

coisa é mais complicada.<br />

No contexto da forte “pressão” patronal por produção e<br />

qualidade o ofício de corta<strong>do</strong>r encontra-se em uma<br />

posição potencialmente colidente com a posição das<br />

costureiras. Os conflitos entre eles ocorrem amiúde em<br />

decorrência <strong>do</strong>s defeitos que eventualmente apareçam nas<br />

peças. Alguns <strong>do</strong>s processos de confecção da peça podem<br />

acarretar os mesmos defeitos – por exemplo, o corte e o<br />

overlock, ambos podem “comer a peça” (isto é, cortar o<br />

teci<strong>do</strong> além <strong>do</strong> devi<strong>do</strong>, tornan<strong>do</strong> a peça mais estreita <strong>do</strong><br />

que o modelo). De maneira que, quan<strong>do</strong> a supervisora<br />

encontra uma peça “comida” ela vai até a overlockista e<br />

mostra o defeito. A costureira, por sua vez, pode se<br />

defender dizen<strong>do</strong> que o defeito veio <strong>do</strong> corte. Por seu<br />

turno, o corta<strong>do</strong>r pode alegar o contrário, defenden<strong>do</strong>-se<br />

igualmente. Como os dispositivos de vigilância não têm a<br />

precisão e a onipresença diante de todas as tarefas <strong>do</strong>s<br />

operários, mas funcionam antes como instaura<strong>do</strong>res da<br />

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