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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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59 Elias &Scotson, op. cit.<br />

elas dão em cima mesmo” – afirma ela. Diferentemente<br />

<strong>do</strong> corta<strong>do</strong>r e de algum eventual costureiro, que sempre se<br />

encontram na presença das “meninas”, os mecânicos têm<br />

um caráter itinerante. Freqüentemente eles prestam seus<br />

serviços para mais de uma fábrica ou “confecção”. A<br />

provável única exceção talvez seja a Filó, que possui um<br />

setor de manutenção próprio. Destarte, a relativa distância<br />

que se estabelece entre as costureiras e os mecânicos abre<br />

a possibilidade da erotização de sua figura e, portanto, <strong>do</strong><br />

surgimento de brincadeiras com conotação de flerte.<br />

“Na Cor da Pele (nome da confecção) agente fazia muita<br />

brincadeira com o mecânico. Agente dizia: ‘pô, você conserta,<br />

conserta a máquina e ela está sempre ruim’. Ele dizia: ‘minha<br />

filha, essa máquina aí você tem que entregar pra Deus, essa aí<br />

não vale mais nada não. Manda o patrão de vocês comprar uma<br />

nova, ele está cheio da grana’. E agente dizia: ‘vai lá e manda<br />

você!’ ‘Man<strong>do</strong> mesmo’ – ele respondia. Agora brincadeira de<br />

cantadas claro que tinha, mas agora eu não lembro não. Tinha até<br />

uma lá na Filó que diziam que era amante de um mecânico. Tinha<br />

garotas que diziam que algumas colegas quebravam a máquina de<br />

propósito só para o mecânico ir lá consertar. E eles mesmos<br />

diziam isso também.” (costureira aposentada, 49 anos).<br />

O mecânico permanece presente, sob a forma de<br />

objeto de fofocas e boatos, nas brincadeiras e práticas de<br />

sociabilidade das costureiras mesmo quan<strong>do</strong> não se<br />

encontra efetivamente na fábrica. Sua importância no<br />

cotidiano das salas de costura, como objeto de flerte, por<br />

exemplo, o converte em um tema recorrente nos<br />

momentos de sociabilidade operária.<br />

“Uma coisa que eu percebo, nas visitas que agente faz ás<br />

confecções, é que as meninas (as costureiras) ficam muito<br />

empolgadas quan<strong>do</strong> falam <strong>do</strong> mecânico. O mecânico é o sonho de<br />

consumo das solteiras. Elas falam <strong>do</strong> mecânico assim de um<br />

jeito! Porque ele não está sempre lá, né. Ele roda de fábrica em<br />

fábrica e aí, quan<strong>do</strong> ele chega, é aquela coisa”. (Consultora de<br />

moda íntima <strong>do</strong> SENAI – uma das responsáveis pela concepção<br />

<strong>do</strong>s modelos de lingerie; freqüentemente visita as confecções<br />

para fazer palestras).<br />

A condição de tema privilegia<strong>do</strong> nas brincadeiras das<br />

costureiras é, de fato, uma característica própria da<br />

posição que o mecânico ocupa, na figuração 59 social de<br />

uma sala de costura. Essas mesmas brincadeiras e<br />

comentários não costumam ocorrer muito com os<br />

corta<strong>do</strong>res e eventuais costureiros, em primeiro lugar em<br />

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