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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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meramente indireto que estabeleci com este cenário. Trata-se de uma forma descritiva que<br />

conserva uma certa distância que denuncia a pouca intimidade que eu tenho com estas salas<br />

de produção 55 .<br />

Assim espero que o leitor tenha a caridade de me per<strong>do</strong>ar<br />

a divisão exageradamente didática que julguei ser<br />

necessária para uma apresentação mais clara <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

deste capítulo. Reconheço que a caracterização da<br />

passagem de um sistema a outro assemelha-se menos ao<br />

processo histórico dinâmico <strong>do</strong> que à duas imagens<br />

fotográficas desbotadas em sua impressão de perenidade.<br />

Neste tópico, tentarei esboçar uma imagem <strong>do</strong> cotidiano<br />

de uma sala de costura organizada segun<strong>do</strong> o sistema<br />

individualiza<strong>do</strong> para, no item subseqüente, tratar das<br />

alterações propriamente ditas. Creio que estes da<strong>do</strong>s<br />

iniciais são importantes para que as transformações que se<br />

seguiram façam senti<strong>do</strong> para o leitor. A descrição que se<br />

segue presta-se a fornecer um desenho impreciso da<br />

natureza <strong>do</strong> trabalho em uma sala de costura, bem como<br />

das relações sociais que se estabelecem em seu interior,<br />

no sistema individualiza<strong>do</strong> de produção. Em outras<br />

palavras, inspira<strong>do</strong> em Leach (1996), trata-se de proceder<br />

ao relato “como se” (Sigaud, in Ibidem: 34) a realidade<br />

social descrita fosse estável e permanente. E “como se” os<br />

esquemas ideais aqui apresenta<strong>do</strong>s correspondessem a<br />

uma realidade, em verdade dinâmica e inconsistente. O<br />

item também fornece uma idéia de quais são os suportes<br />

simbólicos sobre os quais são deposita<strong>do</strong>s os significa<strong>do</strong>s<br />

das diferenciações internas no sistema de produção<br />

individualiza<strong>do</strong> e, portanto, da maneira como a divisão <strong>do</strong><br />

trabalho social era procedida em todas as fábricas <strong>do</strong> setor<br />

antes da reestruturação produtiva de mea<strong>do</strong>s da década de<br />

1990. Não obstante, não são poucas as “confecções”<br />

friburguenses que, ainda hoje, obedecem a uma<br />

classificação de um mo<strong>do</strong> ou outro aproximada das<br />

características aqui apresentadas.<br />

A diferença mais visível aos olhos de um observa<strong>do</strong>r<br />

externo entre os <strong>do</strong>is modelos de produção <strong>do</strong> lingerie diz<br />

respeito às fronteiras nítidas entre uma especialidade<br />

profissional e outra, no sistema individualiza<strong>do</strong>, e à<br />

fluidez destas fronteiras em decorrência da imposição da<br />

55 Tenho a impressão, a este respeito, que o seguinte comentário de Clifford acerca de Maurice Leenhardt –<br />

sobre o relato redigi<strong>do</strong> pelo último de um ritual melanésio chama<strong>do</strong> grands pilous – adequa-se a fortiori ao<br />

presente relato e à investigação que o precedeu, dadas as suas condições desfavoráveis.<br />

“A suas evocações falta algo de proximidade, como conseqüências de suas dificuldades em assistir ao<br />

evento...” (Clifford, 2002: 238).<br />

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