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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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sucessivos estágios da fabricação. Todas essas seriações<br />

formam um quadriculamento permanente”. 53<br />

A oposição entre o sistema de produção individualiza<strong>do</strong> 54 – que no caso da Triumph<br />

International organizava-se em torno da esteira de produção e, nas demais fábricas <strong>do</strong><br />

setor, se configurava por meio de uma organização espacial das máquinas de costuras em<br />

filas – e o sistema coletivo denomina<strong>do</strong> “célula”, não pode ser caracterizada senão<br />

mediante uma superestimação heurística de suas diferenças. Certamente entre um pólo e<br />

outro encontraremos fábricas que a<strong>do</strong>taram sistemas híbri<strong>do</strong>s, que conciliam propriedades<br />

técnicas e dispositivos de controle social de ambos. Estas variações, entretanto, foram<br />

temporariamente deixadas em suspenso em decorrência <strong>do</strong>s prazos estabeleci<strong>do</strong>s para o<br />

fechamento desta investigação. Por conseguinte, elas serão retomadas em um momento<br />

oportuno.<br />

As mudanças no processo produtivo <strong>do</strong> lingerie que se processaram gradativamente<br />

em um grande número de fábricas de roupas íntimas de Nova Friburgo não podem ser<br />

relatadas a não ser de um mo<strong>do</strong> precário. A dificuldade maior diz respeito à necessidade de<br />

conferir à descrição o caráter dinâmico <strong>do</strong> processo histórico correspondente. Tanto mais<br />

difícil elas aparentam ser em decorrência de estarmos diante de questões ligadas à memória<br />

encarnada de certos grupos de operárias, que mobilizam os eventos ocorri<strong>do</strong>s a mais ou<br />

menos uma década atrás como meio de formular uma crítica às suas atuais condições de<br />

trabalho. De mo<strong>do</strong> que meu contato com esta dinâmica só se deu de um mo<strong>do</strong> indireto, por<br />

meio das interações com estes grupos, na pesquisa de campo. O problema se agrava se<br />

lembrarmos uma vez mais <strong>do</strong> “caráter fecha<strong>do</strong>” da fábrica e, portanto, <strong>do</strong> fato de que eu<br />

não pude presenciar diretamente o cotidiano de uma sala de costura. O estilo narrativo<br />

a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> neste tópico e no seguinte é, com efeito, uma contrapartida deste contato<br />

53 Foulcault, Michel. 1977. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes. (p.133).<br />

54 Os termos “individualiza<strong>do</strong>” – que aparece aqui – e “individualização” – no contexto de Terrail, tal qual<br />

cita<strong>do</strong> por Florence Weber a que fiz alusão na página anterior – assumem significa<strong>do</strong>s distintos, nesta<br />

dissertação. No primeiro caso, trata-se de uma maneira nativa pela qual os consultores patronais <strong>do</strong> SENAI<br />

se referem ao antigo processo produtivo de lingerie onde cada costureira recebia estímulos monetários<br />

individualiza<strong>do</strong>s à produtividade e ao controle pessoal da qualidade (o mo<strong>do</strong> nativo <strong>do</strong> grupo de costureiras<br />

mais antigas da Triumph se referirem a este sistema é simplesmente “esteira”). Isto é, gratificações<br />

monetárias calculadas segun<strong>do</strong> o percentual de produtividade e o nível de qualidade de cada costureira em<br />

particular. No segun<strong>do</strong> caso, “individualização” refere-se, segun<strong>do</strong> a leitura de Terrail feita por Weber (op.<br />

cit: 180-181), às alterações ocorridas nas relações entre o “eu” e o “nós” entre os grupos operários.<br />

Alterações que podem ser resumidas precariamente como um deslocamento <strong>do</strong> prima<strong>do</strong> <strong>do</strong> “nós” para uma<br />

maior autonomia <strong>do</strong> “eu”, no interior da classe operária.<br />

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