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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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fábrica ela precisa ter uma produtividade formidável, em casa. Esta constatação corrobora,<br />

portanto, a fala repetida de nossa interlocutora, segun<strong>do</strong> a qual ela sabia que poderia<br />

aprender, tão bem quanto qualquer uma de suas colegas, qualquer etapa <strong>do</strong> processo<br />

produtivo.<br />

A consideração apressada deste episódio de conflito entre as costureiras da Triumph<br />

International, poderia nos conduzir à conclusão, questionada por Florence Weber (1991:<br />

179-189), de que as novas formas assumidas pelo capitalismo contemporâneo conduzem a<br />

classe operária a um processo de “privatização” (Schwartz, op. cit.) ou de<br />

“individualização” (Terrail, cita<strong>do</strong> por Weber, op. cit: 180 e seguintes), isto é, a uma quebra<br />

<strong>do</strong>s antigos laços de solidariedade operária acima descritos. Não obstante, há neste caso<br />

certas regularidades e homogeneidades que nos desautorizam inferir precocemente<br />

qualquer hipótese que extrapole o âmbito restrito <strong>do</strong> grupo de costureiras <strong>do</strong> qual Lúcia<br />

fazia parte. Em primeiro lugar, a relativa homogeneidade de geração – a maior parte das<br />

colegas de Lúcia tem mais de 45 anos; em segun<strong>do</strong>, o tempo de experiência no trabalho<br />

como costureira – todas elas possuem mais de 15 anos na costura de lingerie. De mo<strong>do</strong> que<br />

estas operárias experimentaram ambos os sistemas de produção de roupas íntimas – o<br />

sistema de esteira e o sistema de “célula”. Há que se considerar aqui não apenas a dimensão<br />

técnica da confecção <strong>do</strong> lingerie, mas mais fundamentalmente ainda as tradições culturais<br />

encarnadas, incorporadas nos hábitos destas operárias e que foram profundamente abala<strong>do</strong>s<br />

pelas alterações nas estruturas objetivas de seu trabalho.<br />

Mas até que ponto estes hábitos e estas tradições foram afeta<strong>do</strong>s? Terão eles<br />

desapareci<strong>do</strong> ou se modifica<strong>do</strong>? Como será a repercussão destas alterações no caso de<br />

outras fábricas de roupas íntimas e no caso das gerações de costureiras que não conheceram<br />

o sistema de produção individualiza<strong>do</strong>? Este capítulo tenta dar conta destas transformações<br />

estruturais tanto quanto de suas repercussões no mo<strong>do</strong> de vida das operárias de lingerie em<br />

Nova Friburgo.<br />

O cotidiano tradicional de uma sala de costura e o processo produtivo individualiza<strong>do</strong>.<br />

“Percorren<strong>do</strong>-se o corre<strong>do</strong>r central da oficina, é possível<br />

realizar uma vigilância ao mesmo tempo geral e individual;<br />

constatar a presença, a aplicação <strong>do</strong> operário, a qualidade<br />

de seu trabalho; comparar os operários entre si, classificalos<br />

segun<strong>do</strong> sua habilidade e rapidez; acompanhar os<br />

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