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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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história, por seu turno, exila a memória <strong>do</strong> presente e <strong>do</strong> corpo, desencarna-a e caracteriza-a<br />

como evento supera<strong>do</strong> para engendrar artificialmente um “imaginário de substituição”<br />

(ibidem; 28). Esse o processo de desfiliação pelo qual parecem passar to<strong>do</strong>s os ex-nativos<br />

desnativiza<strong>do</strong>s pelo banho áci<strong>do</strong> da razão crítica acadêmica. Um processo ritual estrutura<strong>do</strong><br />

segun<strong>do</strong> o mito <strong>do</strong> “homo academicus”.<br />

Contar, portanto, a história <strong>do</strong>s hábitos culturais das costureiras de lingerie é – a<br />

exemplo <strong>do</strong> que faz Hoggart (1973), transforman<strong>do</strong> suas próprias memórias em material de<br />

análise – evocar certas lembranças (que continuam vigorosamente presentes) de minhas<br />

relações de família. E não apenas isso. Entrevistar sindicalistas desta categoria é<br />

reencontrar antigos companheiros que conheci quan<strong>do</strong> era militante <strong>do</strong> movimento<br />

estudantil e filia<strong>do</strong> ao Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res (PT), então referência de esquerda entre os<br />

parti<strong>do</strong>s políticos e, por conseguinte, nosso local de encontro.<br />

Ademais, minha própria naturalidade – nasci e vivi, durante os 20 primeiros anos de<br />

minha vida em Nova Friburgo – faz de mim, de algum mo<strong>do</strong>, um nativo. Se, por um la<strong>do</strong>,<br />

como sugeri, meu afastamento temporário deste universo social, por ocasião de minha<br />

graduação, concorreu para que eu ignorasse certos aspectos importantes <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida<br />

das costureiras friburguenses, por outro, minha condição parcial de nativo me impôs<br />

também um esforço intelectual rigoroso no senti<strong>do</strong> de objetivar fatos muito familiares, que<br />

por isso mesmo me pareciam naturais. O exemplo mais paradigmático disso foi o<br />

tratamento da categoria nativa “moda íntima”. Foi só muito tardiamente – faltan<strong>do</strong> cerca de<br />

um mês para o encerramento da pesquisa –, e mediante o importante alerta crítico dirigi<strong>do</strong> a<br />

mim pela professora Caetana Maria Damasceno, que consegui objetivar as implicações<br />

subjacentes à noção de “moda íntima”. Por vezes mesmo, nos trabalhos de fim de curso que<br />

redigi para as disciplinas <strong>do</strong> Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social <strong>do</strong><br />

Museu Nacional da UFRJ, a expressão “moda íntima” não foi devidamente problematizada.<br />

Este mo<strong>do</strong> nativo de se referir aos produtos da indústria de lingerie é evoca<strong>do</strong> pela<br />

classe patronal (e en<strong>do</strong>ssa<strong>do</strong> invariavelmente pelos cidadãos friburguenses, em geral)<br />

possivelmente para conferir a tais produtos o caráter de “distinção social” (Bourdieu, op.<br />

cit.) que o setor da Moda e <strong>do</strong> Estilismo evoca, por meio da exaltação estética da<br />

vestimenta. Como nativo de Nova Friburgo, isso até bastante tardiamente me passou<br />

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