wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
freqüentemente se reduziam aos horários de almoço. Momentos nos quais eu visitei os<br />
portões de diversas fábricas ao longo de oito meses, sob condições por vezes adversas a<br />
estas interações 35 . Em que pese tais dificuldades, as diferenças entre os processos<br />
produtivos anterior e atual; as práticas de sociabilidade, as diferenças internas aos grupos de<br />
operárias serão consideradas neste capítulo.<br />
O capítulo 2 é uma tentativa de compreender as diferentes formas de reagir a estas<br />
mudanças, segun<strong>do</strong> as gerações e os locais de trabalho, a partir de duas histórias de vida<br />
privilegiadas a este respeito. A condição de caso privilegia<strong>do</strong> é aqui definida por <strong>do</strong>is<br />
aspectos principalmente. Em primeiro lugar, a diferença de gerações. Em seguida, como<br />
corolário deste primeiro aspecto, a trajetória profissional associada ao sistema de produção<br />
por esteira, no caso das gerações mais antigas – de mo<strong>do</strong> que as operárias deste grupo<br />
trabalharam tanto no antigo quanto no novo sistema –; e unicamente ao sistema de<br />
produção por “célula”, no caso das gerações mais novas. A comparação destas duas<br />
trajetórias pode iluminar diferenças e semelhanças nas tradições coletivas de ambos os<br />
grupos de operárias. A hipótese aqui é que tais diferenças podem concorrer para conferir<br />
inteligibilidade às reações diversas (positiva ou negativa) frente à implementação <strong>do</strong><br />
sistema de célula.<br />
O capítulo 3 – que se concentra especialmente sobre o caso das gerações mais<br />
antigas de operárias e, complementarmente, sobre as relações conjugais – compreende um<br />
relato da vida das operárias de moda íntima, com o foco sobre o “esfera <strong>do</strong>méstica” 36 . A<br />
contigüidade semântica entre moda “íntima” e a esfera “privada” da casa é abordada sob<br />
uma perspectiva <strong>do</strong> corpo feminino como elo de ligação entre estes <strong>do</strong>is aspectos. Trata-se<br />
de problematizar o corpo como uma instância primeira <strong>do</strong> priva<strong>do</strong>. O corpo constitui<br />
igualmente aqui uma superfície de registro das estruturas temporais específicas da<br />
exploração da mão-de-obra feminina. Isto é, a pressa e a urgência (poucas vezes<br />
verbalizadas pelas operárias, mas passíveis de ser observadas no plano da prática cotidiana<br />
e, portanto, da ação corporal) parecem constituir um corolário da “incorporação das<br />
35 A este respeito remeto o leitor ás páginas 2, 3, 4, 5 e 6 acima.<br />
36 A expressão “esfera <strong>do</strong>méstica” é aqui empregada sob uma perspectiva ampliada de seu campo semântico,<br />
com base na formulação de Brenner (1998), que inclui algumas atividades tradicionalmente equacionadas,<br />
no ocidente, com a esfera pública, especialmente com o campo da economia. Sob este ponto de vista, a<br />
dicotomia público/priva<strong>do</strong> assumirá, em certos momentos desta dissertação, um valor meramente<br />
heurístico. Voltarei a este debate no capítulo 3.<br />
35