wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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O caráter heróico destes empresários é aqui caracteriza<strong>do</strong> por uma diversidade de<br />
artifícios literários que nem sempre correspondem adequadamente à realidade. As<br />
“extensas ruas de casas para trabalha<strong>do</strong>res”, ainda hoje, não são senão duas pequenas vias<br />
que compreendem pouco mais de trinta casas. Outros artifícios descritivos enfatizam o<br />
caráter quase impossível das obras realizadas – em “um brejo imprestável para edificação”<br />
– bem como tempo recorde deste entrementes de realizações – “somente 25 anos mais<br />
tarde”. Há ainda que se registrar um discurso marcadamente colonial, de extensão da<br />
civilização a um local “atrasa<strong>do</strong>” como Nova Friburgo, materializa<strong>do</strong> na megalomania e na<br />
idéia de modernidade – “ocupa<strong>do</strong> por imponente e moderna fábrica”.<br />
Os “benefícios sociais”, ou “as obras sociais da fábrica” – conforme eles são<br />
denomina<strong>do</strong>s na edição aqui analisada – patrocina<strong>do</strong>s e acompanha<strong>do</strong>s de perto pela classe<br />
patronal são largamente exalta<strong>do</strong>s ao longo de to<strong>do</strong> o volume. As práticas esportivas<br />
parecem ser aqui um caso privilegia<strong>do</strong> de aproximação clientelista entre dirigentes e<br />
operários.<br />
“O esporte clube Fábrica Filó, cujo presidente de honra é o Sr.<br />
Frederico Schinhofer, diretor da fábrica, clube este que, além de futebol,<br />
terá futuramente também equipes de vôlei, basquete, ping-pong, etc. com<br />
competições e campeonatos. Tu<strong>do</strong> isto sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> para garantir o<br />
bem-estar <strong>do</strong> operaria<strong>do</strong> e desenvolver as grandes possibilidades<br />
esportivas, físicas, sociais e culturais <strong>do</strong>s nossos emprega<strong>do</strong>s e<br />
operários”. (idem: 11, grifos meus).<br />
Este trecho, bastante expressivo daquele caráter ambíguo da cordialidade a que aludi<br />
páginas acima, no qual o presidente de honra <strong>do</strong> clube esportivo é também um <strong>do</strong>s diretores<br />
da empresa, assume um caráter quase tutorial bem expresso na última frase da citação. Aqui<br />
parece mesmo existir sub-repticiamente a influencia de um lega<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento médico-<br />
higienista, de um desenvolvimento das possibilidades físicas e de um enquadramento<br />
moral 30 <strong>do</strong> operário, como mo<strong>do</strong> de reprodução da força-de-trabalho. Contrapartida da<br />
30 Leite Lopes inicia também o capítulo 5 da “Tecelagem” apresentan<strong>do</strong> os pressupostos subjacentes ao<br />
patrocínio patronal de certos “benefícios sociais”, que parecem se aproximar <strong>do</strong>s pressupostos <strong>do</strong><br />
movimentos médico-higienista europeu, no século XIX:<br />
“A expressão ‘física e moral’ utilizada acima se refere à expressão e conteú<strong>do</strong> a ela subjacente, de uma<br />
concepção psico-fisiológica das relações sociais, usual na literatura sobre classe operária, prevalecente na<br />
Europa <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong> século XX, e de largo uso também no Brasil” (Leite Lopes, op. cit: 169).<br />
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