wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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estudar não?” – diz uma. “O Kaíque falou que vai ser engenheiro, não é<br />
Kaíque? – comenta a outra.”<br />
Testemunhamos aqui uma preocupação, eu diria que prematura até, com a educação<br />
superior <strong>do</strong> filho, por parte de sua mãe. Não obstante, em que pese o investimento e<br />
estímulo de certas mães no senti<strong>do</strong> de que seus filhos se encaminhem para os estu<strong>do</strong>s<br />
universitários, um observa<strong>do</strong>r pode ainda encontrar, com freqüência, numerosas operárias<br />
<strong>do</strong> lingerie que incitam enfaticamente seus filhos a ingressarem em algum curso técnico,<br />
sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> SENAI. Entretanto, um aspecto que parece diferir <strong>do</strong>s momentos históricos<br />
anteriores é a expectativa referida ao tempo de formação <strong>do</strong>s filhos. Seja na direção da<br />
formação universitária, seja na da formação técnica, parece estar fican<strong>do</strong> cada vez mais<br />
claro para as operárias <strong>do</strong> setor vestuário friburguense que seus filhos deverão investir<br />
indeterminadamente em sua própria qualificação. Em que medida o discurso empresarial da<br />
“empregabilidade” e seus corolários concorrem para esta nova concepção de escolarização<br />
é coisa que precisa ser investigada. Por sua vez, as expectativas em relação a uma ou outra<br />
modalidade de ensino (técnico ou acadêmico) muito provavelmente decorrem <strong>do</strong> “horizonte<br />
<strong>do</strong>s possíveis” (Bourdieu, 2001, op. cit.) de cada caso particular. Famílias operárias com<br />
uma renda que possibilite investir nos estu<strong>do</strong>s universitários <strong>do</strong>s filhos tendem a ver este<br />
itinerário como o caminho natural a ser segui<strong>do</strong>; famílias menos abastadas, por sua vez,<br />
tendem a priorizar, para sua prole, uma formação que a conduza rapidamente ao merca<strong>do</strong><br />
de trabalho, mas que, no entanto, carecerá sempre de uma qualificação continuada.<br />
Lembro-me, a este respeito, por ocasião de minha entrada no SENAI para cursar Mecânica<br />
Geral, de minha mãe ter afirma<strong>do</strong> orgulhosa, inumeráveis vezes que aquele curso era a<br />
“faculdade de pobre” 115 .<br />
Poder-se-ia ainda especular teoricamente sobre outros indícios empíricos que<br />
aparecem no episódio <strong>do</strong> ônibus acima relata<strong>do</strong>. Indícios que fornecem elementos, ainda<br />
embrionários, para uma investigação mais séria das famílias operárias e sua inter-relação. A<br />
115 Esta fala, desde aquela época, me dava a impressão, não de to<strong>do</strong> consciente então, de aquele ser um<br />
discurso patronal de convencimento <strong>do</strong>s operários no senti<strong>do</strong> da contribuição para a reprodução da força de<br />
trabalho no próprio seio familiar – embora eu evidentemente não formulasse desta maneira. O que mais<br />
tarde veio a se confirmar – descobri que, naquele momento (o ano era 1994) as equipes <strong>do</strong> SENAI visitaram<br />
a maioria das fábricas friburguenses, no intuito de oferecer, aos filhos <strong>do</strong>s operários, um convênio entre a<br />
instituição e as empresas que dava ao estudante o direito a almoço, jantar e meio salário mínimo de<br />
remuneração.<br />
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