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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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A centralidade <strong>do</strong>s Filhos.<br />

Um tema fundamental das conversas entre as costureiras, em seus momentos de<br />

sociabilidade – que parece ocupar um espaço privilegia<strong>do</strong> igualmente em suas vidas –, diz<br />

respeito aos filhos. Em geral as operárias se referem aos seus próprios filhos com grande<br />

enternecimento e escutam as colegas falarem <strong>do</strong>s seus respectivos de maneira bastante<br />

atenciosa. Sempre me causou uma impressão muito forte a maneira como estas<br />

trabalha<strong>do</strong>ras falam de sua prole. Este parece ser o ponto nodal de suas vidas, o que há de<br />

mais importante, a fonte gera<strong>do</strong>ra de suas forças e o telus para o qual convergem seus<br />

esforços. Por conseguinte, o tema “filhos” parece ser um importante elemento na<br />

sociabilidade das costureiras e um aspecto central de sua cultura e sistema de valores.<br />

Logo na primeira semana de meu trabalho de campo, no dia 4 de Abril de 2008,<br />

pude presenciar, com efeito, uma conversa entre amigas a este respeito que me causou uma<br />

impressão particularmente forte. Embora eu não tenha consegui<strong>do</strong> acompanhar to<strong>do</strong> o<br />

desenrolar <strong>do</strong> assunto – posto que o grupo de costureiras caminhava rápi<strong>do</strong>, em direção ao<br />

refeitório da Filó S.A. – o diálogo que registrei é bastante ilustrativo, embora não o seja na<br />

mesma medida que foram as expressões animadas e a linguagem corporal que o<br />

acompanhou. Seguem-se minhas anotações acerca <strong>do</strong> evento:<br />

“Na hora <strong>do</strong> almoço, segui de perto até o portão que conduz ao refeitório, um grupo<br />

de cinco mulheres que falavam prodigamente, entre si. O assunto específico foi a visita de<br />

um genro à casa de uma das operárias, no <strong>do</strong>mingo. ‘Minha filha está namoran<strong>do</strong> um<br />

<strong>do</strong>utor, menina, não tá fraca não!’ – principiou orgulhosa a mãe. ‘Ele foi lá em casa, no fim<br />

de semana, pela primeira vez, para almoçar’ – continuou. ‘Xi pode contar que vai rolar<br />

casamento. Daqui a pouco ele chega lá com a aliança queren<strong>do</strong> marcar a data e tu<strong>do</strong>’(risos)<br />

– diz uma colega. ‘Mas ela tá muito nova pra casar, tem muito que aproveitar ainda’ –<br />

contesta outra menina <strong>do</strong> grupo. ‘Não, não, deixa ela, o garoto é bom, estudioso, acabou de<br />

se formar em o<strong>do</strong>ntologia, é educa<strong>do</strong>, chegou lá em casa to<strong>do</strong> tími<strong>do</strong>. (riso geral) E parece<br />

gostar muito dela’ – diz a mãe. ‘E o pior é que eu não sabia que ele iria aparecer para o<br />

almoço, ele me pegou de surpresa. Mas também eu caprichei, fiz um frango com laranja<br />

que ficou um espetáculo!’ (risos). Este pequeno diálogo que consegui registrar<br />

acompanhou-se de uma animação incisiva e grande agitação corporal. A atenção recíproca<br />

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