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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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“autoridade”. O primeiro termo, no contexto das costureiras de lingerie tanto quanto no<br />

caso das famílias <strong>do</strong>s mineiros franceses que Schwartz estu<strong>do</strong>u, diz respeito apenas à<br />

administração, ao gerenciamento das finanças familiares e <strong>do</strong>s assuntos <strong>do</strong>mésticos. A<br />

autoridade, por sua vez, refere-se ao coman<strong>do</strong> de fato <strong>do</strong> homem sobre a mulher.<br />

No caso particular <strong>do</strong> tema <strong>do</strong> lazer entre as costureiras esta divisão entre “governo”<br />

e “autoridade” parece se reproduzir sob a forma de uma atualização tácita, sub-reptícia, da<br />

dicotomia trabalho/lazer. Em outros termos, a autoridade masculina fica garantida por meio<br />

de uma separação entre os assuntos referentes à utilidade material (cujo controle é<br />

desloca<strong>do</strong> das mãos masculinas para as femininas), e aqueles temas liga<strong>do</strong>s aos gostos<br />

familiares, e mais fundamentalmente ainda aos gostos femininos (<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s pelo homem).<br />

Destarte, a <strong>do</strong>minação masculina sobre o “tempo livre” das mulheres pode ser interpretada<br />

como uma modalidade particular da distinção schwartziana entre governo e autoridade<br />

<strong>do</strong>méstica, processada pela adaptação da configuração específica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho<br />

friburguense a uma tradição operária mais difundida.<br />

As considerações acerca da maneira pela qual a divisão sexual <strong>do</strong>s papéis é operada<br />

no interior da família operária em Nova Friburgo nos conduzem às questões de identidade e<br />

de tradição. Em última instância elas evidenciam como uma (re)configuração específica <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, no município, é modulada nos termos de uma tradição patriarcal de<br />

ampla repercussão, que extrapola em larga medida os limites da cultura local. Embora esta<br />

tradição refira-se a uma modalidade de <strong>do</strong>minação masculina, encontramos no caso<br />

específico das famílias das operárias de roupas íntimas friburguenses, um certo número de<br />

ambigüidades que precisam ser consideradas seriamente. A apreciação destas<br />

ambigüidades, entretanto, se presta menos a justificar a <strong>do</strong>minação mesma que a enfrentar<br />

analiticamente fenômenos que apresentam variadas modalidades (femininas tanto quanto<br />

masculinas) de legitimação. Nesse senti<strong>do</strong>, não são isola<strong>do</strong>s os casos nos quais as mulheres<br />

elas próprias se empenham na manutenção de uma divisão patriarcal <strong>do</strong>s papéis de<br />

autoridade, conceden<strong>do</strong> ao homem seu lugar tradicional na hierarquia familiar, abrin<strong>do</strong> mão<br />

<strong>do</strong> controle sobre seu “tempo livre”; tu<strong>do</strong> isso como mecanismo de manutenção de uma<br />

elevada auto-estima <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>.<br />

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