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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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que sua sombra” (ibidem: 40). A centralidade da urgência pode ser uma via interessante de<br />

interpretação <strong>do</strong> papel que a televisão ocupa na vida da classe operária. A fórmula de um<br />

“fast-food cultural” (Ibidem: 41) oferece aos grupos sociais subordina<strong>do</strong>s – aqueles que não<br />

dispõe das condições necessárias à formulação <strong>do</strong> gosto escolástico (Bourdieu, 2001, op.<br />

cit.), a saber, o esta<strong>do</strong> de Skholè, de lazer, de tempo livre disponível e liberto das urgências<br />

da luta cotidiana pela sobrevivência – uma opção de lazer adequada ao pouco tempo livre<br />

de que eles dispõem. E isso a foriori no caso das mulheres, se lembrarmos, uma vez mais,<br />

a questão da dupla (ou, como vimos, da tripla) jornada de trabalho feminina.<br />

Mas isso não pode ser tu<strong>do</strong>. A análise esboçada acima corre o risco de ser<br />

exageradamente parcial e, mais ainda, etnocêntrica se desconsiderarmos as estratégias de<br />

resistência política e cultural que se organizam em torno da televisão. Mais <strong>do</strong> que isso, se<br />

parássemos por aqui estas reflexões não fariam mais <strong>do</strong> que corroborar a idéia segun<strong>do</strong> a<br />

qual a televisão, mais especialmente a novela, constituem um modelo de lazer passivo e,<br />

portanto feminino. Há toda uma concepção machista de mun<strong>do</strong> implícita numa tal<br />

formulação. Jesus Martin-Barbero denuncia, no contexto Mexicano <strong>do</strong>s anos 1930, um<br />

preconceito homólogo – referi<strong>do</strong> ao cinema – ao que certa parcela da intelectualidade dirige<br />

à televisão atualmente:<br />

“Entretanto, as concepções pessimistas que chegam até esse ponto,<br />

sejam de esquerda ou de direita, conservam fortes laços de parentesco, às<br />

vezes vergonhoso, com aquela intelligentsia para a qual o popular sempre<br />

se identifica secretamente com o infantil, com o ingênuo, com aquilo que<br />

é cultural e politicamente imaturo. É o mesmo círculo que durante longos<br />

anos se negou a ver no cinema a mais mínima possibilidade de interesse<br />

estético 112 . Ao atrair tão fortemente as massas populares, o cinema<br />

tornava-se suspeito de ser elementar, e portanto inapto para a<br />

complexidade e o artificialismo da criação cultural”. (Martin-Barbero,<br />

2003: 277).<br />

Para além <strong>do</strong> simples pessimismo, as classes populares não são meros materiais<br />

indiferencia<strong>do</strong>s sobre o que a incidência da televisão confere a forma final. Há, com toda<br />

112 Talvez a própria formação <strong>do</strong> gosto estético esteja baseada no “desgosto” – na negação <strong>do</strong> gosto popular –,<br />

conforme Bourdieu demonstra em La Distinction.<br />

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