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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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primeiro lugar, o papel central que os filhos<br />

parecem desempenhar na vida das costureiras – não<br />

somente de um ponto de vista individual, mas<br />

similarmente no contexto da sociabilidade e da<br />

identidade das operárias. Voltarei a este ponto, no<br />

tópico seguinte. O segun<strong>do</strong> fator parece ser o caráter<br />

mimético – no senti<strong>do</strong> formula<strong>do</strong> por Elias &<br />

Dunning (op. cit) – da televisão. O <strong>do</strong>loroso<br />

processo de controle das emoções pelo qual<br />

precisam passar as operárias – sobretu<strong>do</strong> no interior<br />

das relações de exploração de seu trabalho – faz<br />

com que o lazer mimético constitua um espaço de<br />

tempo no interior <strong>do</strong> qual tais emoções possam ser<br />

revividas temporariamente.<br />

A televisão parece ter a este respeito um caráter ambíguo. Por um la<strong>do</strong>, eu arriscaria<br />

especular que ela constitui, neste contexto, um poderoso dispositivo de regulação social na<br />

medida em que possibilita às classes operárias e aos grupos subordina<strong>do</strong>s a vivência de<br />

certas emoções vinculadas a um padrão de vida aos quais estes grupos não têm acesso na<br />

concretude de sua existência. Por outro la<strong>do</strong>, programas falsamente solidários como este<br />

menciona<strong>do</strong> pelas costureiras podem ter sua alta audiência explicada pela evocação de uma<br />

certa solidariedade de classe. Isto é, na medida em que esta verdadeira indústria da<br />

beneficência que se montou via televisão veicula programas que remediam isoladamente a<br />

vida de uma ou outra família pobre, os especta<strong>do</strong>res de igual condição social e econômica<br />

podem experimentar uma empatia e, eventualmente, uma atualização <strong>do</strong> sonho de ascender<br />

na escala social e econômica. Consideremos mais detidamente esta ambigüidade de um<br />

ponto de vista compara<strong>do</strong> com certas formulações da bibliografia que se ocupa <strong>do</strong> tema.<br />

É significativo que estas operárias concedam um lugar importante, em seus<br />

momentos de lazer, para a televisão. E não deixa de ser uma coincidência terminológica<br />

interessante o fato de, no ônibus – um local de sociabilidade entre as costureiras –, elas<br />

dedicarem bastante atenção a um meio de comunicação que costuma amiúde veicular fatos<br />

omnibus (Bourdieu, 1997, op.cit: 23) – ou seja, fatos que interessam a to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

precisamente porque não interessam a ninguém em particular e, por conseguinte, não são<br />

objetos de contradições e disputas entre as pessoas (Ibidem). De igual maneira, pode ser<br />

produtivo cotejar o ritmo apressa<strong>do</strong> das costureiras ao saírem da fábrica com sua admiração<br />

por programas de televisão que tem por característica a centralidade da urgência e a<br />

mediação <strong>do</strong> que Bourdieu chamou de fast-thinkers – “pensa<strong>do</strong>res que pensam mais rápi<strong>do</strong><br />

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