wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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informales que atraviesan la estructura formal de la organización [...], de<br />
forma que esta red pueda servir de suporte a los objetivos de la<br />
organización”. (Monsen, Saxberg, Sutermeister, 1966, cita<strong>do</strong> por<br />
Boltanski & Chiapello, op. Cit: 211).<br />
Por fim, também no bojo <strong>do</strong> processo de <strong>do</strong>mesticação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, encontramos a<br />
terceira modalidade, acima mencionada, da costura em <strong>do</strong>micílio – que chamarei aqui de<br />
“facção <strong>do</strong>méstica”. Esta modalidade de “facção” pode se estabelecer entre uma<br />
“confecção” formal e uma costureira <strong>do</strong>miciliar ou mesmo entre esta última e uma<br />
“confecção” informal. Esta talvez seja a versão <strong>do</strong> sistema de “facção” na qual sua<br />
polissemia se manifesta de um mo<strong>do</strong> mais incisivo. Muitos são os senti<strong>do</strong>s que este tipo de<br />
trabalho <strong>do</strong>méstico assume, <strong>do</strong> ponto de vista das inumeráveis costureiras que dele vivem<br />
ou dele participam. Vejamos alguns exemplos.<br />
Ângela, a irmã de Vânia a que fiz referência ao longo deste trabalho, possui um filho<br />
de 14 anos. Mãe solteira, ela passa to<strong>do</strong> o dia sentada à frente de uma máquina de overlock<br />
alocada defronte de uma janela da varanda de sua residência. O pai <strong>do</strong> rapaz nunca pagou a<br />
pensão de que o filho tem direito garanti<strong>do</strong> em lei. De mo<strong>do</strong> que, para dar conta <strong>do</strong>s custos<br />
com a criação <strong>do</strong> menino, a jornada de trabalho de Ângela inicia-se invariavelmente às seis<br />
horas da manhã e, estenden<strong>do</strong>-se por to<strong>do</strong> o dia, finaliza amiúde às 22:00 horas.<br />
Entrementes a maior distração desta costureira é ouvir, entre olhares intermitentes, a<br />
programação de televisão que ali é veiculada por um aparelho cujas dimensões<br />
provavelmente não extrapolam seis polegadas.<br />
Ângela trabalha pelo sistema de “facção”. Sua patroa, uma ex-costureira da Triumph<br />
que estava entre as 600 costureiras que foram demitidas nos anos 1990, montou sua<br />
empresa naquela ocasião e, alguns anos depois, aderiu à lógica da terceirização demitin<strong>do</strong><br />
cerca de 50% de suas operárias e transferin<strong>do</strong>, em seguida, a produção para a “facção<br />
<strong>do</strong>méstica”. O trabalho nesta modalidade de “facção” é a única fonte de renda de Ângela<br />
que, portanto, não pode contar com nenhum <strong>do</strong>s direitos trabalhistas garanti<strong>do</strong>s pela<br />
legislação. Eis o primeiro senti<strong>do</strong> que esta modalidade de “facção” pode assumir no<br />
contexto friburguense – o de fonte de renda e subsistência de muitas costureiras de lingerie.<br />
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