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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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ideal da empresa, porque pra eu receber meu salário no final <strong>do</strong> mês essa<br />

empresa tem que estar bem financeiramente”. (Coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Núcleo<br />

Moda <strong>do</strong> SENAI/Nova Friburgo e consultora das empresas de moda<br />

íntima da região, grifos meus).<br />

Estes dispositivos motivacionais e a campanha ideológica que pinta a imagem da<br />

fábrica como uma equipe de interesses convergentes, parecem ser similares àqueles<br />

descritos por Boltanski e Chiapello (S.D) como sen<strong>do</strong> característicos d“O Novo Espírito <strong>do</strong><br />

Capitalismo”. Por vezes estes dispositivos lançam mão, como estratégia de legitimação da<br />

<strong>do</strong>minação, de ideários historicamente coaduna<strong>do</strong>s com os grupos contestatários da ordem<br />

estabelecida, tais como a noção de “cooperação” 15 explicitamente evocada pelo sistema de<br />

produção em “célula” – na prática, um estopim de individualização. Tu<strong>do</strong> isso, entretanto, é<br />

dissimula<strong>do</strong> pela classe patronal por intermédio de irrisórias concessões monetárias que,<br />

por um la<strong>do</strong>, visam a<strong>do</strong>rmecer o movimento operário no que se refere às reivindicações por<br />

aumento salarial e por melhores condições de trabalho; e, por outro, pretendem estimular a<br />

auto-exploração <strong>do</strong> operário. Por seu turno, as costureiras demonstram uma consciência<br />

transparente <strong>do</strong> antagonismo de sua posição relativamente à da classe patronal 16 e, por<br />

conseguinte, não objetam às gratificações apenas na medida em que estas permitem, de sua<br />

parte, operar de maneira mais autônoma o seu “cálculo econômico” 17 . Assim a elevada<br />

15 Refiro-me à importância assumida pela noção de cooperação no interior de certos setores <strong>do</strong>s movimentos<br />

sociais. Por exemplo, em minha experiência como militante <strong>do</strong> movimento estudantil de Educação Física<br />

lembro-me que era evocada como estratégia de contraposição à competitividade <strong>do</strong> discurso liberal. Ver a<br />

este respeito Brotto, Fábio Otuzzi. 1999. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como exercício de<br />

convivência. Campinas: Unesp. Historicamente o cooperativismo <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, como é o caso das<br />

sociedades de auxílio mútuo, pode constituir um exemplo da importância da cooperação entre a classe<br />

operária. Por outro la<strong>do</strong>, é preciso lembrar, conforme Marx o demonstrou no capítulo XI d’O Capital que a<br />

noção de cooperação é central também à concepção burguesa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e ao mo<strong>do</strong> de produção capitalista.<br />

16 Transcrevo aqui um trecho de minhas anotações em caderno de campo <strong>do</strong> dia 30 de abril de 2008, no qual<br />

uma operária formula, em termos claros, a noção de um antagonismo entre patrões e emprega<strong>do</strong>s: “‘Olha,<br />

garoto, aqui não tem benefício mesmo, não tem creche, como tem na Filó; não tem cesta básica.’ –<br />

continuou uma das mais falantes <strong>do</strong> grupo – ‘mas se você quiser se informar mais é melhor você falar com<br />

a Léia’. Perguntei então quem era Léia e obtive a resposta de que ela era uma das <strong>do</strong>nas da fábrica. Disselhes<br />

que meu objetivo era compreender as concepções e impressões das operárias elas próprias e não <strong>do</strong>s<br />

patrões. A reação a este meu comentário foi altamente revela<strong>do</strong>ra de uma consciência transparente das<br />

relações de conflito que se processam na esfera da fábrica – ‘Isso mesmo, tem que ficar <strong>do</strong> nosso la<strong>do</strong>; não<br />

tem nada que ficar <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong> patrão não!’”<br />

17 “Designamos aqui por ‘cálculo econômico’ as operações mentais <strong>do</strong>s operários, ligadas á sua prática<br />

econômica cotidiana, pelas quais eles se orientam para tomar atitudes referentes à inter-relação entre o<br />

tempo de trabalho e o esforço despendi<strong>do</strong> durante esse tempo, por um la<strong>do</strong>, e, por outro la<strong>do</strong>, a sua renda e<br />

sua subsistência (que se constituem <strong>do</strong> salário <strong>do</strong> operário, mas também das ‘concessões não monetárias’ de<br />

que usufruem ou podem vir a usufruir). Assim, algumas estratégias possíveis podem ser efetivamente<br />

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