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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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estabelece entre duas pessoas jurídicas. Por conseguinte, ela não tem aparentemente<br />

nenhuma relação com a “esfera <strong>do</strong>méstica” de que trata este capítulo. Parece, pois, muito<br />

estranho que um capítulo sobre a esfera <strong>do</strong>méstica da vida das costureiras de roupas íntimas<br />

se ocupe deste tipo de “facção”. Mas, conforme assinalei a inexistência de relação entre a<br />

esfera <strong>do</strong>méstica e a modalidade de facção que chamei de franquia é apenas aparente.<br />

Vejamos, pois, qual é a natureza desta relação por meio de um exercício compara<strong>do</strong>.<br />

Em seu formidável relato da vida das mulheres que trabalham na produção e no<br />

comércio de batik (um ramo <strong>do</strong> setor têxtil) em Solo, cidade situada na região central de<br />

Java, Brenner (1998) ilustra como a tradicional separação ocidental entre o que chamamos<br />

“esfera pública” e aquilo que denominamos “esfera privada” pode constituir uma barreira<br />

que dificulta a compreensão <strong>do</strong> papel central que as mulheres desempenham na produção<br />

de riqueza local – e na produção da própria noção nativa de valor. Segun<strong>do</strong> este relato – ao<br />

contrário da habitual perspectiva moldada no Ocidente, que qualifica o homem com as<br />

virtudes econômicas, relegan<strong>do</strong> à mulher as propriedades <strong>do</strong>mésticas – em Solo, são as<br />

mulheres as principais protagonistas da produção material e simbólica <strong>do</strong> que se considera<br />

riqueza. Mas este protagonismo não se daria por simples inversão <strong>do</strong>s papeis da mulher e<br />

<strong>do</strong> homem na sociedade – por exemplo, com o último se ocupan<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>méstico ou<br />

priva<strong>do</strong>, e a primeira, <strong>do</strong> econômico, <strong>do</strong> público. Ao contrário disso, é a própria dicotomia<br />

público/priva<strong>do</strong> que Brenner quer explodir pela experiência das mulheres de Solo. Contra o<br />

suposto poder inexorável <strong>do</strong> capitalismo e seus corolários – a idéia de modernização e <strong>do</strong><br />

pre<strong>do</strong>mínio da esfera pública sobre a esfera privada – o papel das mulheres de Solo<br />

consistiu, nas palavras de Brenner, em “<strong>do</strong>mesticar” 107 o merca<strong>do</strong>, em fazer aquilo que<br />

chamamos público participar efetivamente da esfera privada.<br />

“But the cultural logics that placed women in the role of<br />

‘<strong>do</strong>mesticator’ were quite different from those that have linked women to<br />

the <strong>do</strong>mestic sphere in the West, where, as Nancy Armstrong writes, ‘We<br />

“Sistema em que o detentor de uma marca registrada permite, sob certas condições e mediante pagamento, a<br />

exploração de seus produtos por firmas independentes”.<br />

Na falta de denominação melhor, optei pelo termo franquia para caracterizar o contrato de facção firma<strong>do</strong><br />

entre a Triumph e as confecções formais de médio porte porque, embora estas últimas empresas não<br />

explorem propriamente a marca da primeira, a posição privilegiada da Triumph na configuração específica<br />

<strong>do</strong> setor confere a tais confecções uma certa distinção comparativamente às demais empresas.<br />

107 “I am intentionally playing with the <strong>do</strong>uble meaning of the Word ‘<strong>do</strong>mesticate’, to suggest the idea of<br />

bringing something under control as well as turning it into something of value to the family”. (Brenner, op.<br />

cit: 16-17).<br />

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