wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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carga de costura em casa) da terceira jornada de trabalho – acarreta riscos á saúde destas<br />
trabalha<strong>do</strong>ras.<br />
Diante <strong>do</strong>s fatos relata<strong>do</strong>s, creio ter evidencia<strong>do</strong> que a hipótese sobre a qual este<br />
tópico se fundamenta não é nova – a saber, que estruturas objetivas distintas concorrem<br />
para plasmar mo<strong>do</strong>s de temporalização igualmente diferentes. Nesse senti<strong>do</strong>, a pressa e a<br />
urgência (que marcam inclusive as declarações das costureiras 104 ) decorre de uma<br />
configuração específica de aspectos que imprimem, de um mo<strong>do</strong> determinante, suas marcas<br />
sobre a vida destas trabalha<strong>do</strong>ras. A pressão produtivista é um destes aspectos; a<br />
distribuição assimétrica <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico é outro; a “costura <strong>do</strong>méstica” 105 é outro. A<br />
defesa mais marcada desta tese, com efeito, talvez possa ser encontrada na obra de Pierre<br />
Bourdieu:<br />
“De fato, para romper verdadeiramente com a ilusão universalista<br />
da análise de essência (à qual tive de sacrificar parcialmente a descrição<br />
da experiência temporal que contrapus parcialmente à visão intelectualista<br />
da decisão racional), seria preciso descrever as diferentes maneiras de se<br />
temporalizar, referin<strong>do</strong>-se às suas condições econômicas e sociais de<br />
possibilidade. O tempo vazio que é preciso matar se contrapõe ao tempo<br />
cheio (ou bem preenchi<strong>do</strong>) daquele que se entrega por inteiro ao seu<br />
negócio, o qual, como se diz, não vê passar o tempo – ao passo que,<br />
para<strong>do</strong>xalmente, a impotência, que rompe a relação de imersão no<br />
iminente, torna consciente a passagem <strong>do</strong> tempo, como a expectativa”.<br />
(Bourdieu, 2001, op. cit: 273, grifo meu).<br />
104<br />
Lembremos, a este respeito, <strong>do</strong> depoimento de uma costureira, na página 59, que termina com a seguinte<br />
declaração:<br />
“Mas depois que se aprende não tem processo mais difícil que o outro. Tem processo mais demora<strong>do</strong>, como<br />
o Overlock, isso tem.”<br />
Deste mo<strong>do</strong>, a própria interpretação das trabalha<strong>do</strong>ras da roupas íntimas acerca de seu trabalho tende a<br />
enfatizar a questão da celeridade ou morosidade das etapas <strong>do</strong> processo produtivo. Questão esta que, como<br />
vimos, tem uma importância capital na determinação <strong>do</strong>s rendimentos financeiros desta categoria operária.<br />
105<br />
Emprego aqui a expressão “costura <strong>do</strong>méstica” para indicar uma modalidade local <strong>do</strong> que Brenner (1998)<br />
chama de “<strong>do</strong>mesticação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>”, no contexto Javanês. Nas palavras desta antropóloga, seu livro:<br />
“(...) will highlight women’s roles in generating material wealth and symbolic capital for their families<br />
through their engagement in the marketplace; as I will argue, it is through women’s actions that the forces<br />
of the market are ‘<strong>do</strong>mesticated’, or converted to the signs of value in a Javanese sense”. (Ibidem: 9).<br />
Voltarei a este ponto no próximo tópico deste capítulo.<br />
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