wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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mun<strong>do</strong> 97 , as roupas íntimas femininas não perderam suas qualidades punitivas sobre o<br />
corpo feminino:<br />
“Século XIX: A idéia de que o corpo deveria ficar firme era muito sólida e, com<br />
isso, os espartilhos voltaram a ser usa<strong>do</strong>s. Vários modelos surgiram acompanhan<strong>do</strong> a moda<br />
<strong>do</strong> momento; a moda <strong>do</strong>s seios separa<strong>do</strong>s, possível grassas a um sistema de barbatanas. Foi<br />
o auge <strong>do</strong> espartilho. A cintura era extremamente apertada para parecer mais fina”. (Castro,<br />
op. cit: 7, grifo meu).<br />
Durante to<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre os<br />
séculos XV e XIX as roupas íntimas constituem<br />
grandes estruturas de teci<strong>do</strong>, madeira e mesmo ferro<br />
que ocultam mais o corpo feminino <strong>do</strong> que as<br />
roupas esportivas contemporâneas o fazem. O<br />
século XX marca a transição da roupa íntima que,<br />
de dispositivo de ocultamento <strong>do</strong> corpo feminino<br />
passa a um artifício que visa ocultar revelan<strong>do</strong> ou<br />
revelar ocultan<strong>do</strong>. Temos aqui diante de nós o<br />
caráter dialético <strong>do</strong> lingerie. Em outras palavras, a<br />
roupa íntima, a exemplo da esfera privada da casa,<br />
tem por fim ocultar, esconder, proteger. Mas<br />
enquanto a casa é a primeira instância de<br />
fortificação no interior da qual o poder <strong>do</strong> “Paterfamilias”<br />
(Freyre, 1998) é onipresente; o lingerie se<br />
encontra no último pólo <strong>do</strong>s dispositivos de<br />
proteção e ocultação <strong>do</strong> corpo feminino. Mas,<br />
sobretu<strong>do</strong> com o advento da “sociedade <strong>do</strong><br />
espetáculo” (Debord, op. cit) e com o comércio<br />
midiático <strong>do</strong>s corpos 98 , o lingerie sofreu uma<br />
metamorfose e, com freqüência atualmente, ele só<br />
se presta a ocultar na medida em que incite à<br />
descoberta. Nesse senti<strong>do</strong>, <strong>do</strong> ponto de vista deste<br />
97 Esta substituição, entretanto, constituiu menos uma ruptura radical com a visão cristã <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> que uma<br />
metamorfose, uma transformação parcial de uma mesma “antropologia nativa da cosmologia ocidental”<br />
(Sahlins, 1996):<br />
“Não obstante, Deus foi clemente. Deu-nos a economia. Na época de Adam Smith, a miséria humana haviase<br />
transforma<strong>do</strong> na ciência positiva de como aproveitamos ao máximo nossas eternas insuficiências, e<br />
tirarmos a máxima satisfação possível de meios que estão sempre aquém de nossas necessidades. Tratava-se<br />
da mesma condição humana miserável contemplada na cosmologia cristã, só que aburguesada – uma<br />
elevação <strong>do</strong> livre arbítrio á escolha racional, que proporcionou uma visão mais anima<strong>do</strong>ra das<br />
oportunidades materiais trazidas pelo sofrimento humano. A gênese da economia foi a economia <strong>do</strong><br />
Gênesis”. (Ibidem: 567).<br />
98 “Tomemos o mais fácil: (...) o sangue e o sexo (...) sempre fizeram vender, e o reino da audiência devia<br />
alçar à primeira página, à abertura <strong>do</strong>s jornais televisivos, esses ingredientes que a preocupação de<br />
respeitabilidade imposta pelo modelo da imprensa escrita séria levara até então a afastar ou a relegar”.<br />
(Bourdieu, 1997b: 22, grifo meu).<br />
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