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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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pública/esfera privada ilustrada pelo par priva<strong>do</strong>-público/priva<strong>do</strong>-priva<strong>do</strong> 94 . O primeiro<br />

pólo da oposição exemplifica<strong>do</strong> pela sala de estar e o quarto <strong>do</strong> filho; o segun<strong>do</strong>, pelo<br />

quarto de Ana e seu mari<strong>do</strong> e o quarto de suas filhas. A iluminação <strong>do</strong>s cômo<strong>do</strong>s priva<strong>do</strong>-<br />

públicos se opõe aqui ao obscuro e ao ocultamento <strong>do</strong>s cômo<strong>do</strong>s priva<strong>do</strong>-priva<strong>do</strong>s; estes<br />

últimos equaciona<strong>do</strong>s, também no caso das residências por mim visitadas, ao gênero<br />

feminino.<br />

A sala de estar tem ainda outras peculiaridades interessantes <strong>do</strong> ponto de vista das<br />

relações de gênero. Por exemplo, os lugares ocupa<strong>do</strong>s nos sofás pelo mari<strong>do</strong> e pela esposa,<br />

diante da televisão. Entre as famílias operárias parece haver uma regularidade, uma rotina<br />

pouco modificada ao longo <strong>do</strong> tempo, nas ocupações <strong>do</strong>s lugares. Assim, nas casas por<br />

mim visitadas pude perceber que invariavelmente o mari<strong>do</strong> ocupa uma posição bastante<br />

central em relação à televisão; a esposa, por sua vez, ocupa também um lugar privilegia<strong>do</strong>,<br />

mas não tanto como o <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>. Das três costureiras que visitei, duas têm seus mari<strong>do</strong>s<br />

afeta<strong>do</strong>s pelo problema <strong>do</strong> desemprego. A manutenção de um lugar privilegia<strong>do</strong> para o<br />

mari<strong>do</strong>, na sala de estar, parece assumir um caráter simbólico representativo <strong>do</strong> lugar<br />

central <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> na casa como um to<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> se passa como se a mulher tentasse<br />

compensar, por meio de certos artifícios, as dramáticas conseqüências emocionais <strong>do</strong><br />

desemprego <strong>do</strong>s homens. Voltarei a este ponto.<br />

Há ainda uma divisão entre o espaço <strong>do</strong> quintal e <strong>do</strong> interior da casa. Trata-se de<br />

uma diferença de <strong>do</strong>mínios de atividades. De um la<strong>do</strong>, as atividades que são realizadas em<br />

público, à luz <strong>do</strong> dia; de outro, as atividades relegadas ao âmbito oculto <strong>do</strong> priva<strong>do</strong>.<br />

Também como a caracterização da casa Kabila feita por Bourdieu, as casas que visitei<br />

apresentam uma divisão entre os espaços das atividades culturais por excelência – a<br />

cozinha, a sala de estar, e o quintal –; e os espaços <strong>do</strong>s atos que compartilhamos com os<br />

demais animais (o sono, o sexo e demais necessidades fisiológicas) – os quartos e o<br />

banheiro.<br />

94<br />

Esta sub-divisão da dualidade foi a mim inspirada pelas sub-divisões propostas por Bourdieu acerca <strong>do</strong>s<br />

Kabila:<br />

“Resumin<strong>do</strong>, a oposição mais aparente masculino (ou dia, ou fogo, etc.)/feminino (ou noite, água, etc.)<br />

corre o risco de dissimular a oposição masculino (feminino-masculino/feminino-feminino), e igualmente, a<br />

homologia masculino/feminino:: feminino-masculino/feminino-feminino. Vê-se aí que a primeira oposição<br />

é uma transformação da segunda, que supõe a mudança <strong>do</strong> sistema de referência e que acaba por deixar de<br />

opor o feminino-feminino ao feminino-masculino para opor o conjunto que eles constituem a um terceiro<br />

termo feminino-masculino/feminino-feminino →feminino (=feminino-masculino+femininofeminino)/masculino”.<br />

(ibidem: 96).<br />

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