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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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costureiras entre as centenas de confecções locais. Rotatividade esta que parece decorrer de<br />

<strong>do</strong>is aspectos principais: de um la<strong>do</strong>, o ideal de exaltação estética e <strong>do</strong> luxo <strong>do</strong>s produtos<br />

das empresas de lingerie, que deposita sobre os ombros das costureiras uma exacerbada<br />

exigência de qualidade e cujo corolário é um discurso patronal de culpabilidade das<br />

operárias em decorrência de sua “baixa qualificação”; de outro, as dificuldades pelas quais<br />

muitas trabalha<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> ramo encontram em se adaptar a certos ambientes de trabalho cuja<br />

pressão pela alta produtividade e qualidade são por demais exaltadas.<br />

Há ainda outros aspectos interessantes a serem enfatiza<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> de formação<br />

profissional de Íris. De acor<strong>do</strong> com seus relatos, além <strong>do</strong> treinamento nas técnicas de<br />

costura <strong>do</strong>s diversos processos necessários à produção <strong>do</strong> lingerie – o que já constitui uma<br />

diferença fundamental comparativamente ao aprendiza<strong>do</strong> de Vânia, que se concentrou<br />

sobre uma única etapa inicialmente – outra ênfase <strong>do</strong> curso recaía sobre a importância <strong>do</strong><br />

trabalho em equipe, <strong>do</strong> gerenciamento coletivo da qualidade, das metas da empresa, etc. Ou<br />

seja, o referi<strong>do</strong> curso não se propunha apenas a habilitar as aprendizes ao trabalho nas salas<br />

de costuras, mas a inculcá-las to<strong>do</strong>s os dispositivos de controle social, disfarça<strong>do</strong>s de<br />

controle de qualidade e metas de produção, necessários a uma genuína “qualificação” <strong>do</strong><br />

ponto de vista patronal.<br />

Finaliza<strong>do</strong> o curso, Íris é admitida prontamente na fábrica Lucitex, onde continua<br />

empregada atualmente, ten<strong>do</strong> completa<strong>do</strong>, em 2008, nove anos de trabalhos presta<strong>do</strong>s à<br />

empresa. Desde o início ela se deparou com o sistema de produção em célula que ela<br />

inclusive já tinha conheci<strong>do</strong> no próprio curso <strong>do</strong> SENAI. De maneira que, diferentemente<br />

das gerações mais antigas de costureiras que passaram anos a fio trabalhan<strong>do</strong> no processo<br />

produtivo individualiza<strong>do</strong>, não há senti<strong>do</strong> em falar de dificuldades de adaptação de Íris ao<br />

sistema de célula, porquanto sua socialização no ofício supunha um adestramento prévio na<br />

nova lógica de produção.<br />

Assim, quan<strong>do</strong> lemos no depoimento de minha informante, cita<strong>do</strong> na página 116, a<br />

seguinte passagem: “se você tiver uma equipe boa em produção dá pra tirar um salário<br />

melhor também”; fica claro que a equipe aqui se refere à célula, cujas gratificações por<br />

produção e prêmios por qualidade são unifica<strong>do</strong>s. Para além da questão propriamente<br />

financeira, a Lucitex é, das fábricas que visitei, o lugar onde mais claramente podemos ver<br />

o quanto a célula pode ser um espaço de sociabilidade e uma unidade de coesão social.<br />

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