wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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sair, dá pra estudar à noite, se você tiver uma equipe boa em produção dá pra tirar um<br />
salário melhor também. E tem espaço para você crescer na profissão”.<br />
Este depoimento de Íris pode ser quase considera<strong>do</strong> um roteiro para o relato de sua<br />
trajetória, sen<strong>do</strong> sobremo<strong>do</strong> expressivo da maneira pala qual ela entende seu trabalho na<br />
indústria de lingerie e suas expectativas para o futuro. Senão vejamos. Aos 20 anos, minha<br />
interlocutora é demitida da referida loja e ingressa no curso de costura de lingerie <strong>do</strong><br />
SENAI, onde passa um ano sen<strong>do</strong> socializada não apenas nas técnicas de seu atual ofício,<br />
mas similarmente nos dispositivos de controle social sob os quais deverá sucumbir, nas<br />
fábricas. O ano era 1998 – perío<strong>do</strong> de plena expansão <strong>do</strong> pólo de “confecções” de lingerie<br />
da região. O episódio de sua socialização no ofício de costureira de lingerie é<br />
particularmente importante para os propósitos desta dissertação.<br />
A exemplo de Vânia, Íris também foi iniciada na profissão por intermédio das<br />
equipes de treinamento <strong>do</strong> SENAI. Diferentemente da primeira, entretanto, esta não foi<br />
recrutada diretamente por uma empresa como ocorreu no primeiro caso (lembremos que o<br />
aprendiza<strong>do</strong> de Vânia se deu nas dependências da própria Triumph, onde ela já estava<br />
contratada como aprendiz e, em seguida, se integrou na produção das salas de costura). Esta<br />
diversidade de formas de socialização, que se processaram em momentos separa<strong>do</strong>s entre si<br />
por cerca de pouco mais de uma década, parece corresponder a diferenças na maneira como<br />
o trabalho fabril era organiza<strong>do</strong> e, por conseguinte, nas condições de manutenção de<br />
estabilidade no emprego da classe operária. No primeiro caso, de Vânia, a própria empresa<br />
investia em formação da mão-de-obra qualificada porquanto o município era ainda bastante<br />
carente em costureiras de lingerie. Ademais a organização <strong>do</strong> trabalho fabril, pelo menos<br />
no que dizia respeito à indústria de roupas íntimas de Nova Friburgo, não havia ingressa<strong>do</strong><br />
na fase de flexibilização e terceirização <strong>do</strong> trabalho, o que possibilitava amplas expectativas<br />
de estabilidade por parte das costureiras. No caso de Íris, ao contrário, a noção de<br />
estabilidade deu lugar à idéia empresarial de “empregabilidade”. Este novo ideário, calca<strong>do</strong><br />
em uma concepção individualista da formação profissional, parece depositar sobre os<br />
ombros <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res toda a responsabilidade pela qualificação. Destarte, no contexto<br />
friburguense de fins da década de 1990 e similarmente hoje, é possível testemunhar uma<br />
ampla oferta de empregos no setor de produção de lingerie sem, contu<strong>do</strong>, nenhuma garantia<br />
de estabilidade no trabalho. O que se vê, pelo contrário, é uma frenética rotatividade das<br />
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