wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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Henrique tirou esse direito e eu tive que trabalhar os 30 anos. Eles tão<br />
queren<strong>do</strong> tirar to<strong>do</strong>s os direitos <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r mesmo. Eu lembro que o<br />
Dornelles, que sempre é bem vota<strong>do</strong> em Friburgo, também queria acabar<br />
com a CLT. Aí entrou o Lula e ninguém falou mais nisso. Graças a Deus<br />
agora se mudar eu já estou fora dessa (risos)”. (ibidem).<br />
A experiência formativa na trajetória de Vânia está, como se vê, muito ligada a sua<br />
condição de operária. Condição que só começou a lhe parecer problemática a partir das<br />
alterações produtivas relatadas no capítulo 1. As relações de exploração que se processam<br />
na esfera da fábrica são, pois, sob o ponto de vista de minha informante, menos<br />
problemáticas <strong>do</strong> que as relações etnocêntricas estabelecidas na escola em torno <strong>do</strong>s<br />
conhecimentos e <strong>do</strong>s valores curriculares. Vânia parece constituir um exemplo de operária<br />
das décadas de 1970 e 1980, quan<strong>do</strong> parecia haver possibilidades de construção de uma<br />
narrativa biográfica pessoal baseada na vida profissional (Sennet, op. cit). De fato, certas<br />
passagens de seus escritos auto-biográficos evocam esta narrativa profissional de um mo<strong>do</strong><br />
idealiza<strong>do</strong> e retrospectivo que podem ser lidas como formulações críticas ao presente.<br />
Vejamos um trecho paradigmático a este respeito.<br />
“Minha vida profissional foi boa. Teve momentos bons e alguns momentos<br />
atribula<strong>do</strong>s, mas nada que viesse a me atrapalhar. Trabalhei em alguns outros tipos de<br />
empresas antes de chegar á moda íntima. Por exemplo, a Fábrica de Rendas Arp (que era<br />
têxtil), uma fábrica de compassos (que era metalúrgica), uma fábrica de calça<strong>do</strong>s e uma<br />
confecção de roupas jeans chamada KEPPS. A KEPPS foi uma das empresas em que eu<br />
mais gostei de trabalhar. Fiquei seis anos. Lá eu aprendi a trabalhar no corte, eu era<br />
corta<strong>do</strong>ra de teci<strong>do</strong>. Isso me aju<strong>do</strong>u mais tarde em uma confecção de lingerie, onde eu tive<br />
a oportunidade de trabalhar no corte também, porque eu já sabia como fazer 86 . Nessa fase<br />
86 Reproduzo aqui uma citação de Linhart (1980: 8-9) feita por Leite Lopes na página 53 da “Tecelagem”,<br />
acerca de casos, semelhantes a este, de aproveitamento <strong>do</strong> conhecimento profissional prévio <strong>do</strong> operário<br />
pelo capitalista em novas operações, “sem, no entanto, reconhecer isso em termos de qualificação e salários<br />
menos baixos” (Leite Lopes, op. cit: 53):<br />
“(...) A qualificação é o conhecimento mercantil de um savoir-faire. Cada vez que a correlação de forças o<br />
permite, esse savoir-faire é utiliza<strong>do</strong> pelos capitalistas sem ser reconheci<strong>do</strong> sob a forma de qualificação:<br />
caso freqüente para as frações mais vulneráveis da força de trabalho – mulheres, imigrantes rurais, etc.<br />
(Utilizar-se-á assim, sem reconhecê-la, a habilidade manual de um artesão de aldeia imigrante para a seção<br />
de pintura na indústria automobilística, a precisão de uma costureira para a montagem na indústria<br />
eletrônica, as qualidades de um agricultor para a vigilância de um processo na indústria de cimento, etc.).<br />
Existe portanto, entre os operários, um conhecimento da produção mais importante que aquele oficialmente<br />
reconheci<strong>do</strong> e pago pelo patronato”.<br />
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