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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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costureiras como uma deterioração de suas condições de trabalho. Pode-se mesmo dizer, na<br />

esteira das formulações de Bourdieu, que o “habitus” incorpora<strong>do</strong> por estas trabalha<strong>do</strong>ras –<br />

isto é, as estruturas sociais das relações de produção incorporadas sob a forma de estruturas<br />

cognitivas – estava em franca dissonância com o novo “habitus” exigi<strong>do</strong> pela nova<br />

configuração social. Nesse senti<strong>do</strong>, a idealização <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> por parte das costureiras de<br />

gerações mais antigas, quan<strong>do</strong> seu trabalho se organizava em torno da esteira, podem ser<br />

interpretadas menos como expressão de desagregação interna da categoria <strong>do</strong> que como<br />

uma ativação de sua memória como meio de formular uma crítica ás suas atuais condições<br />

de trabalho. Em um contexto diferente, portanto, nos deparamos com eventos homólogos<br />

aos observa<strong>do</strong>s em contextos agrários, na região açucareira <strong>do</strong> Nordeste brasileiro em<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1950.<br />

“Efetivamente, o mora<strong>do</strong>r – e isso não é um privilégio seu – ao referir-se ao<br />

passa<strong>do</strong>, idealiza-o. Mas essa ‘idealização’ é mais <strong>do</strong> que a simples aposição de um sinal<br />

positivo sobre o que já foi. Trata-se como que da construção de um tipo ideal ‘selvagem’,<br />

em que as regras da coexistência social nos velhos engenhos são dadas em ‘esta<strong>do</strong> puro’ e,<br />

mais ainda, segun<strong>do</strong> as melhores recomendações weberianas, ‘exageradas’, ‘absolutizadas’<br />

ou ‘levadas às últimas conseqüências’.” (Palmeira, 1977: 103-104).<br />

Por outro la<strong>do</strong>, em “confecções” e fábricas menores que a Triumph, muitas<br />

costureiras iniciaram sua carreira em perío<strong>do</strong>s posteriores à implantação da “célula” – isto<br />

é, mea<strong>do</strong>s da década de 1990 –, o que as permitiu desenvolver relações de afinidade e<br />

práticas de sociabilidade de outra natureza. Vale dizer, as novas estruturas sociais das<br />

relações de produção imprimiram sobre os corpos destas novas operárias estruturas de ação<br />

e estruturas cognitivas menos incompatíveis com as novas condições. Por outro la<strong>do</strong>, a<br />

experiência comum de exploração pode acarretar novas formas de sociabilidade<br />

compatíveis com as novas condições sociais das costureiras, evitan<strong>do</strong>-se, por conseguinte,<br />

um processo de “destruição da classe operária” ou de quebra da coesão social entre elas,<br />

como seria possível supor em uma apreciação <strong>do</strong> caso específico da Filó.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, uma investigação isolada das<br />

costureiras da Triumph International, que<br />

desconsidere as demais fábricas de roupas íntimas<br />

de Nova Friburgo, pode conduzir o pesquisa<strong>do</strong>r a<br />

uma interpretação equivocada <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> sistema<br />

de “célula” sobre as relações de sociabilidade entre<br />

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