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wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...

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Vemos, pois, por um la<strong>do</strong>, que as relações de<br />

afinidade e de solidariedade entre as costureiras da<br />

Triumph nem desapareceram e nem continuaram as<br />

mesmas. Por outro la<strong>do</strong>, em outras fábricas de vida<br />

mais recente, e especialmente entre as costureiras<br />

mais jovens, a “célula” parece não ser um obstáculo<br />

à sociabilidade e seu caráter negativo é associa<strong>do</strong><br />

menos a um potencial desencadea<strong>do</strong>r de conflitos<br />

<strong>do</strong> que ao regime de exploração exacerba<strong>do</strong> que o<br />

sistema de “célula” supõe. Como interpretar estas<br />

ambigüidades então?<br />

Uma via possível seria a de que uma mudança no processo produtivo desencadeou,<br />

no caso das operárias da Triumph, um processo de desagregação, de parte <strong>do</strong>s antigos laços<br />

de solidariedade. Mas um processo contra o qual foram desenvolvi<strong>do</strong>s outros vínculos de<br />

classe. Esta hipótese, contu<strong>do</strong>, precisa passar por um escrutínio mais sério basea<strong>do</strong> na<br />

experiência das costureiras elas próprias. Experiência que não corrobora, senão<br />

parcialmente este ponto de vista. Em primeiro lugar, este constitui um postula<strong>do</strong> decorrente<br />

das entrevistas realizadas com costureiras que trabalharam muito tempo na esteira e, apenas<br />

muito ulteriormente, na “célula”. Tratava-se, pois, de trabalha<strong>do</strong>ras com mais de vinte anos<br />

de experiência, todas da Triumph International, que passaram suas vidas acostumadas com<br />

o processo de produção antigo e cujas tradições de sociabilidade encontravam-se<br />

fortemente marcadas por este processo – bem como por seus horários, ritmos de entrada, de<br />

saída, pelas brechas de tempo menos ocupa<strong>do</strong> 80 . Nestas condições, uma alteração tardia <strong>do</strong><br />

processo produtivo – acompanhada de mudanças similares nos horários e ritmos de<br />

produção – pode mais facilmente ser experimentada subjetivamente pelas próprias<br />

esquizofrenia e capitalismo ver o instigante livro de Deleuze, Gilles & Guattari, Félix. 1976. O anti-édipo:<br />

capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA. Em especial, sua definição sumária, mas<br />

apropriada, da teoria batesoniana <strong>do</strong> <strong>do</strong>uble bind: “Bateson chama de <strong>do</strong>uble bind a emissão simultânea de<br />

duas ordens de mensagem, das quais uma contradiz a outra (por exemplo, o pai que diz a seu filho: vamos,<br />

me critique, mas que subentende vivamente que toda crítica efetiva, pelo menos um certo tipo de crítica,<br />

será mal recebida). Bateson vê nisso uma situação particularmente esquizofrenizante...” (p. 106-107).<br />

80 O tempo menos ocupa<strong>do</strong> aqui diz respeito a um momento de relaxamento relativo da atenção dedicada ao<br />

trabalho, no interior <strong>do</strong> próprio expediente. Por exemplo, nos quinze minutos finais da jornada diária,<br />

quan<strong>do</strong> as costureiras desligam as máquinas e iniciam a limpeza das mesmas. Aqui a exigência de atenção<br />

extrema é, de fato, reduzida. Com efeito, desde Marx, a questão da atenção compulsória exigida por certas<br />

atividades produtivas é uma dimensão importante na investigação sobre o maior ou menor contentamento<br />

<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e, em última análise, sobre a questão <strong>do</strong> trabalho aliena<strong>do</strong>.<br />

“Essa subordinação não é um ato isola<strong>do</strong>. Além <strong>do</strong> esforço <strong>do</strong>s órgãos que trabalham, é exigida a vontade<br />

orientada a um fim, que se manifesta como atenção durante to<strong>do</strong> o tempo de trabalho, e isso tanto mais,<br />

quanto menos esse trabalho, pelo próprio conteú<strong>do</strong> e a espécie e mo<strong>do</strong> de execução, atrai o trabalha<strong>do</strong>r,<br />

portanto, quanto menos ele o aproveita, como jogo de suas próprias forças físicas e espirituais.” (Marx, op.<br />

cit: 206).<br />

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