wecisley ribeiro do espirito santo-dissertaçao mestrado-ppgas-ufrj ...
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largamente <strong>do</strong> cobra<strong>do</strong>r <strong>do</strong> ônibus que, por sua vez, não segurava a seriedade que tentou<br />
inicialmente sustentar e estampava em risadas. “Gente, mas o cobra<strong>do</strong>r é muito baixinho,<br />
nem consegue encostar o pé no chão, coita<strong>do</strong>.” – começou ela – “Menino, você não sente<br />
<strong>do</strong>r nas pernas não?” – as meninas desatavam a rir e, junto com elas, o cobra<strong>do</strong>r ele próprio<br />
– “Não, é sério, estou preocupada com a saúde dele ué...” – justificava-se com as garotas,<br />
tentan<strong>do</strong> esconder um riso cordialmente debocha<strong>do</strong>.<br />
Ademais, esta mulher parecia ser uma espécie de líder entre as colegas, ou mais<br />
precisamente uma mestra de cerimônias daquele importante ritual de retorno para a casa –<br />
uma ocasião que parece conferir identidade àquele grupo, vide sua auto-identificação<br />
irônica como “turma da bundinha”. Quase to<strong>do</strong>s os temas de conversa passavam por ela; as<br />
demais meninas (um grupo de quatro mulheres que aparentavam ter aproximadamente a<br />
mesma idade da primeira) voltavam-se todas para ela, ouvin<strong>do</strong>-a com grande entusiasmo.<br />
Ao cotejar o engano de minha primeira impressão com as atitudes concretas da mulher que<br />
eu estava observan<strong>do</strong>, veio-me à mente uma imagem que parece mais apropriada para<br />
caracterizá-la – a imagem d’A força <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res” tal qual evocada por Thompson<br />
(1987) para descrever as reações da classe operária inglesa à exploração <strong>do</strong> capital.<br />
Observan<strong>do</strong> as brincadeiras e a grande intimidade e fraternidade com as quais estas<br />
trabalha<strong>do</strong>ras se tratavam, a noção de “individualização” e quebra da coesão de classe não<br />
pôde me parecer mais equivocada para descrevê-las.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, é certo que algumas práticas de lazer que ocorriam no perío<strong>do</strong><br />
anterior à implementação das alterações produtivas aqui relatadas foram quase que<br />
inteiramente eliminadas <strong>do</strong> cotidiano das costureiras da Triumph. Isto serve inteiramente<br />
para aqueles grupos de colegas que se reuniam para ir ao clube Olífas, onde fica o parque<br />
aquático da empresa. Amiúde estas operárias aproveitavam parte de seu tempo diário não<br />
gasto com o trabalho para tomar um banho de sauna ou piscina. Esta era uma vantagem <strong>do</strong><br />
sistema de <strong>do</strong>is turnos que foi aboli<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> sistema de “célula”. Aquelas operarias<br />
que trabalhavam de 6:00 às 14:00 horas aproveitavam parte da tarde no parque aquático;<br />
por sua vez, as que iniciavam a jornada de trabalho às 14:00 horas, com freqüência,<br />
aproveitavam uma ou duas horas antes <strong>do</strong> almoço. Com a a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong> turno único,<br />
entretanto, o dia e o sol das costureiras foram inteiramente surrupia<strong>do</strong>s pelos patrões e<br />
obnubila<strong>do</strong>s pelas paredes <strong>do</strong>s pavilhões de produção.<br />
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