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para o recado do assassino, transmitido através do corpo<br />
dilacerado de Ascânio. Eliana, com toda aquela conversa,<br />
me dava a chance de perguntar, sem levantar suspeitas,<br />
sobre os dados do acará, que eram confusos nos textos de<br />
Agassiz e de Sceva:<br />
– Me diz uma coisa, Eliana: existe mesmo esse negócio<br />
de que os acarás chocam os ovos na boca e fazem os<br />
alevinos crescer ali?<br />
– Você fala dos bandeira e dos discos?<br />
– Pensava mais no cará-cascudo que dá lá na Pampulha<br />
e que vejo o povo pescando todo dia quando vou correr.<br />
Agassiz dizia que os ovos passam diretamente da barriga<br />
do peixe para a boca, apesar de os nativos, na época, contestarem<br />
o cientista.<br />
– Bem – disse ela –, Agassiz acabou misturando<br />
dados sobre o acará, sobretudo por comparação com<br />
o comportamento de outras espécies da família. Nidificação<br />
bucal é muito comum entre os ciclídeos. Na<br />
maioria das vezes sob responsabilidade da fêmea, mas<br />
às vezes também aos cuidados do macho. Mas não tem<br />
essa história de que os ovos passam diretamente para<br />
a cavidade. Normalmente, a fêmea põe os ovos numa<br />
área limpa do fundo. Daí vem o macho e fecunda. Ela<br />
então recolhe na boca os ovos fecundados e os mantém<br />
em torno de 21 dias. Na maioria das espécies da família<br />
a nidificação e o nascimento dos alevinos se dá dessa<br />
forma. Olha só aqui o amarelinho – e ela apontava para<br />
o Labidochromis caeruleus, estrela do Malawi, que estava<br />
entre os mais populares dos ciclídeos africanos –, com<br />
ele acontece exatamente assim.<br />
– Quer dizer que aquele chifre na cabeça do acará não<br />
tem nada a ver com nidificação?!<br />
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