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Peixe Morto

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31 de dezembro, 1865<br />

Faz hoje uma semana que chove quase sem parar. É<br />

exasperante não poder trabalhar e ter de passar os dias olhando<br />

para o tempo fechado. No dia de Natal a chuva deu uma<br />

trégua, para em seguida voltar em torrentes, despejando sobre<br />

a terra verdadeiros dilúvios quentes que, não conseguindo<br />

amainar o calor, fazem subir uma umidade insuportável durante<br />

os poucos momentos em que não chove. Para piorar<br />

as coisas, nesses mesmos momentos de ligeira calma, um<br />

verdadeiro inferno de piuns, pernilongos e muriçocas de<br />

todas as espécies faz da existência por aqui um suplício. Só<br />

agora entendi a expressão local que designa o ato de ficar à<br />

toa como “matar mosquitos”. Não há amor à ciência que<br />

resista. Se nos cobrimos, para evitar as picadas, o calor nos<br />

entontece. Se buscamos o ar, somos carregados pelos insetos.<br />

Melhor a chuva, que ao menos dispersa os algozes.<br />

Há mais de mês que não escrevia nesse diário, usando<br />

todo o tempo para as anotações relativas ao trabalho de preparação<br />

das peles. Mas aqui volto, em busca de um consolo<br />

para essa inércia forçada. Desde o Natal que meus auxiliares<br />

não voltaram da Lagoa Santa para o Ribeirão da Mata,<br />

retidos pelo álcool e pelos desregramentos que se seguem<br />

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