15.04.2013 Views

Peixe Morto

Peixe Morto

Peixe Morto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

elegância toda especial, como você talvez tenha notado lá<br />

na minha galeria.<br />

– Como não notar um Castagneto, quando as galerias<br />

todas expõem rabiscos? – Disse eu, enfatizando a palavra<br />

todas, por pura maldade.<br />

– Aliás, vi no seu livro algumas lindas reproduções de<br />

aquarelas de ilustração científica. Como se chama mesmo<br />

o ilustrador?<br />

– Meus caros – interveio Elisa –, aquele livro lindo<br />

pode ficar para daqui a pouco.<br />

Gentilmente, encheu nossas taças e nos serviu da salada<br />

que acabara de chegar.<br />

– Um brinde aos peixes e às aquarelas! – Disse ela, em<br />

tom de trégua no jogo de enganos.<br />

A fome e a boa comida calaram por algum tempo a<br />

conversa. Entre aprovações ao tempero e goles de vinho,<br />

findamos logo o almoço. Depois do café, seguido da cigarrilha<br />

fumada pelo Filogoni – não podia faltar essa nota<br />

pernóstica naquele tipinho asqueroso –, fomos ver a exposição.<br />

Diante de uma luxuriante Serra da Mantiqueira, feita<br />

em aguadas de intenso verde, com incontáveis variantes<br />

de tom, Filogoni voltou à pergunta:<br />

– Como se chama mesmo o aquarelista lá do século<br />

XIX?<br />

– Quem? Ah, o que eu mostro no livro?<br />

– Sim, esse mesmo. Como é o nome dele?<br />

Elisa circulava entre as aquarelas como um peixe dentro<br />

d’água, deslizando sinuosa pelo mármore e pelo alabastro<br />

do salão. Via-se que estava alheada a tudo e a todos. Não<br />

via o chão, nem as paredes, nem mesmo as telas, muito<br />

menos o meu olhar sobre as suas pernas, as minhas narinas<br />

∙ 63 ∙

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!