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– Se gosta de aquarelas, não pode deixar de, depois<br />
do almoço, ver a maravilhosa exposição do Mário Zavagli<br />
que está aqui no museu.<br />
De fato, o museu levava uma exposição do grande<br />
aquarelista, que havia superado radicalmente a arte-rabisco<br />
que impregnara a paisagem cultural desde os anos 1980,<br />
reinventando as formas figurativas através do traço minucioso<br />
de encantadoras aquarelas imaginadas sobre as<br />
paisagens do interior de Minas.<br />
A conversa rodou então pelos caminhos que levavam<br />
ao beco sem saída da arte contemporânea com seus rabiscos,<br />
suas vacas fatiadas, suas instalações pretensiosas, tão pretensiosas<br />
quanto ridículas. Elisa, talvez para me impressionar,<br />
fazia coro às minhas aulas no curso de especialização em<br />
História da Ciência – onde passávamos da ciência à arte<br />
e daí à cultura, sem grande respeito por fronteiras de<br />
conhecimento – e repetia que uma nova era de figuração<br />
iria suceder a falta de sentido da era das instalações. Filogoni<br />
concordava. Para evitar tanta concordância, voltei a<br />
espicaçar o marchand no mesmo tom em que ele falara<br />
comigo ao mudar de assunto:<br />
– E não gosta de aquários? – Voltei ao tema anterior com<br />
a mesma quebra brusca de direção, aproveitando a confusão<br />
entre aquarista e aquarelista, entre aquário e aquarela.<br />
Elisa riu da minha aceitação do jogo de provocações.<br />
Seu riso era sempre fácil, sua boca sempre convidativa.<br />
– E agora, Jacó? Não foge do assunto não... – Seguiu<br />
ela insuflando o amigo.<br />
– Bem, como já disse – respondeu Filogoni, ao mesmo<br />
tempo fugindo do assunto –, adoro peixes, mas só no prato<br />
ou na tela. Os quadros de peixes possuem, para mim, uma<br />
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