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Nunca lhe perguntei a idade. Não só por delicadeza, mas<br />
porque esse mistério era parte da sua sedução. Ela tinha<br />
plena consciência daquela duplicidade e abusava das personagens.<br />
Às vezes parecia uma adolescente em dia de<br />
chuva, chorando baixinho na hora de gozar, pedindo<br />
para comer só o seu rabo, como se guardasse a suposta<br />
virgindade para um noivo de subúrbio. De hora para outra<br />
virava uma máquina de gozo, revezando o pau entre a<br />
boceta e a boca, rindo desbragadamente a cada explosão<br />
dos nervos, a cada jorro em suas entranhas, dona absoluta<br />
dos próprios desejos.<br />
– Professor, eu queria tirar uma dúvida.<br />
Lá vinha a figura indefectível do chato. Elisa se virou<br />
para não gargalhar com o meu desconcerto diante da situação.<br />
Será que esse idiota não via que eu estava ali prestes<br />
a começar uma história com a dona da boca mais bonita<br />
da cidade? Comecei a jogar com pressa os papéis dentro<br />
da pasta, para me livrar do chato antes que ela se fosse,<br />
mas ele já se dirigira ao quadro-negro, tomara do giz e se<br />
preparava para me dar uma aula qualquer, do alto do seu<br />
pernosticismo de militante de esquerda.<br />
Em menos de um minuto ele reduziu a história do<br />
Brasil ao refrão de sempre: falar mal dos americanos.<br />
Claro que era de propósito. Corria pela escola uma fama<br />
de que eu voltara do doutorado totalmente americanizado.<br />
Um verdadeiro horror, em meio àquela fábrica<br />
de militantes. Nada como infernizar a minha vida com<br />
proselitismo esquerdista.<br />
Pelo canto do olho, vi Elisa saindo pela porta – a<br />
bunda suspensa na saia, em justa medida de insinuação e<br />
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