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Peixe Morto

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29 de junho de 2008, 9:30 h.<br />

Entrei no banho com a mente assombrada pelo espectro<br />

de Sceva e de sua solidão na beira do Ribeirão<br />

da Mata. O lugar, hoje abandonado, deve abrigar o seu<br />

fantasma na ronda das noites de verão. Debaixo do chuveiro,<br />

sob o choque da água fria, apercebi-me de que não<br />

havia consertado a resistência, queimada pelo uso excessivo<br />

durante aqueles dias frios. Os calafrios cortavam como os<br />

estiletes do taxidermista. A imagem do morto se misturava<br />

aos esfolados na mesa sangrenta à beira da mata, enquanto<br />

meu sangue parecia esvair por cortes na nuca e nas axilas.<br />

Para que arrancar o couro de um industrial?<br />

Com a água correndo sobre o corpo, já mais acostumado<br />

à temperatura, comecei a pensar que o procedimento<br />

do assassino poderia ser menos uma forma de me<br />

incriminar – dispositivo ridículo, pela sua obviedade – e<br />

muito mais uma ameaça, oculta para a polícia e explícita<br />

para mim, como a dizer: “se abrir o bico, morre também”.<br />

Seja lá quem for que tivesse feito ou mandado fazer aquilo,<br />

integrava o grupo de pessoas que eu conhecera nos<br />

últimos meses, desde que me envolvera com Elisa e com<br />

seu marido, por decorrência da condição de amante da<br />

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