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Ele chegou a levantar-se para ir embora, mas eu alcei<br />
os braços em sinal de armistício.<br />
– Tenho pensado em escrever um pequeno manual de<br />
taxidermia. Tenho aqui comigo algumas notas. Se não se<br />
importa, gostaria de mostrá-las ao doutor. Acho que são<br />
veleidades de açougueiro que lida com cientistas...<br />
Ele esboçou um meio sorriso, talvez por educação, e<br />
sentou-se. Continuei a explanação, lendo trechos do meu<br />
caderno de notas.<br />
Percebi logo que ele se enfastiava com o meu pequeno<br />
tratado. Esse mesmo fato me deu – devo confessar – o ânimo<br />
perverso para seguir lendo. Era uma forma de combater<br />
seus discursos com a mesma arma.<br />
A certa altura das notas, parei de ler, pois o dinamarquês<br />
já não me ouvia. Distraía-se observando os ossos de<br />
uma ave que eu havia preparado e que estavam dispostos<br />
em linha e numerados sobre a mesa. Sua mente parecia<br />
distante dali. Levantou-se, sem qualquer aceno ou palavra,<br />
saiu e não mais voltou.<br />
Bem, Hannah, já passa das sete horas. Vou até a vila<br />
ver os festejos. Dizem que são interessantes. Um muito<br />
feliz Natal, minha querida. Sei que quando estiver lendo<br />
esta carta já será um outro ano. Mas lembre de mim aqui<br />
e agora, pois só lembrando de você posso seguir com essa<br />
solidão. Lembranças a todos. Cuide-se, minha Hannah. E<br />
até breve, se tudo der certo.<br />
Com o pensamento sempre em você, receba meu<br />
carinho e meu amor.<br />
∙ 30 ∙<br />
George Sceva