NOZÂNGELA MARIA ROLIM DANTAS PROGRAMA DE ...
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impressão de estar dando um ofício aos filhos, vendo entrar uma ajuda extra na economia da<br />
família.<br />
A mídia reforçava o trabalho precoce como “salvação” das crianças e adolescentes<br />
pobres, procurando sempre difundir nos meios de comunicação em massa os casos que<br />
serviam de exemplo e bravura, enaltecendo sempre a disciplina, seriedade, dedicação e a<br />
coragem destes trabalhadores. Por outro lado, noticiava com teor negativo as crianças e<br />
adolescentes vistos nas ruas ou cometendo algum delito, como conseqüência da falta de<br />
estarem fora de alguma atividade laboral, tornando-se “por natureza, desonestos, preguiçosos,<br />
desorientados, desordeiros (BRASIL, 2004b, p.21)”.<br />
Mas afinal, qual o papel do monitor diante de tudo isso, já que se está fazendo uma<br />
análise da construção do conceito deste sujeito?<br />
O monitor, bedel, instrutor ou inspetor foram categorias profissionais constituídas na<br />
sua gênese para desempenharem o papel de vigilante, disciplinador, sendo os responsáveis<br />
pelo cumprimento dos regulamentos, de zelar pelo controle da lei e da ordem do<br />
estabelecimento em que desempenhavam suas funções. E, assim, buscavam, dentro de suas<br />
limitações, evitar que as crianças e adolescentes, sob os cuidados da instituição, fugissem do<br />
esquema de uma ordem imposta proveniente de uma organização hierárquica, sob os ditames<br />
dos esquemas da lógica do olhar disciplinar nascido do sistema militar, pois “o sucesso do<br />
poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a<br />
sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é específico, o exame 19 ”<br />
(FOUCAUT, 1977, p. 153).<br />
Foucault (1977) afirma que, na medida em que as atividades de produção foram<br />
ficando mais complexas - fossem elas nas fábricas ou nas escolas e o número de operários ou<br />
de alunos fossem aumentando -, a função de vigiar tornou-se mais definida e necessária,<br />
transformando-se em uma engrenagem indispensável no controle da produção e da educação.<br />
Como bem esclarece este mesmo autor, na mesma obra (p.157), quando se refere à escola:<br />
[...] O desenvolvimento das escolas paroquiais, o aumento de seu número de<br />
alunos, a inexistência de métodos que permitissem regulamentar<br />
simultaneamente a atividade de toda uma turma, a desordem e a confusão que<br />
daí provinham tornavam necessária a organização dos controles. Para ajudar o<br />
mestre, Batencour escolhe entre os melhores alunos toda uma série de<br />
19 O exame, segundo Foucault (1977, p.164-165), é um dispositivo que: “combina as técnicas da hierarquia que<br />
vigia e as da sanção que normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar,<br />
classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e<br />
sancionados. É por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. Nele vêmse<br />
reunir a cerimônia do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da<br />
verdade. No coração dos processos de disciplina, ele manifesta a sujeição dos que são percebidos como objetos e<br />
a objetivação dos que se sujeitam”.